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Negociações sobre a Síria são retomadas com Damasco em posição de força

28/11/2017 12h59

Genebra, 28 Nov 2017 (AFP) - A ONU retomou nesta terça-feira as negociações de paz sírias em Genebra, em que o regime de Damasco, depois de suas vitórias militares, tenta impor suas condições, embora tenha aceito um cessar-fogo em uma zona rebelde.

A delegação oficial do governo sírio, que deveria chegar na segunda-feira, atrasou sua vinda para quarta-feira em protesto, uma vez que a oposição exige a partida do presidente sírio, Bashar al-Assad, como condição prévia para qualquer negociação, algo inaceitável para Damasco.

Mesmo assim, a Síria aceitou estabelecer um cessar-fogo em Guta Oriental, região rebelde próxima a Damasco onde um acordo de distensão já havia sido instaurado, segundo informou o enviado especial da ONU, Staffan de Mistura.

"Acabo de ser informado pelos russos que durante a reunião do P5", que reúne nesta terça em Genebra representantes dos membros permanentes do Conselho de Segurança, "a Rússia propôs - e o governo aceitou - um cessar-fogo em Guta Oriental", declarou o diplomata à imprensa, após um encontro com a delegação da oposição síria.

De Mistura, que já organizou - sem sucesso - sete ciclos de negociações em Genebra desde 2016, manteve seu programa e abriu este oitavo ciclo com um encontro com a delegação da oposição síria.

De acordo com uma autoridade síria, o governo de Damasco negociou intensamente com De Mistura nos últimos dois dias.

"A delegação do governo virá na quarta-feira para expressar sua posição sobre as negociações", disse à AFP.

Desta vez, De Mistura espera dar um novo impulso às negociações graças à participação, pela primeira vez, de uma delegação única da oposição síria, que inclui todas as tendências, mesmo as mais moderadas, toleradas por Damasco.

- Velhos fantasmas -Em setembro, De Mistura pediu que a oposição síria seja "muito realista para entender que não ganhou a guerra", o que significa não estabelecer como pré-condição a saída do chefe de Estado, uma medida que o regime se recusa a discutir.

Por sua vez, o governo de Damasco, fortalecido após suas vitórias militares contra os rebeldes e os jihadistas, graças ao apoio decisivo de Moscou, não parece disposto a ceder nas negociações.

O enviado da ONU reiterou na segunda-feira que não aceitaria "quaisquer condições prévias de nenhuma das partes". Seus objetivos para esta oitava rodada de negociações são a redação de uma nova Constituição e a organização de eleições patrocinadas pela ONU.

Mas os velhos fantasmas voltaram a rondar a mesa de discussões. Ao chegar em Genebra, o chefe da delegação opositora, Nasr Hariri, insistiu na segunda-feira que o presidente Assad deve deixar o poder antes das eleições.

Ele recordou que a resolução 2254 aprovada em 2015 pelo Conselho de Segurança prevê, numa primeira fase, a criação de uma "governança credível, inclusiva e não sectária" na Síria.

- Sucesso da Rússia -Diante de uma ONU impotente e um Estados Unidos fechados em si mesmo desde a eleição de Donald Trump, o presidente russo, Vladimir Putin, multiplicou, com sucesso, as iniciativas diplomáticas e militares relativas ao conflito sírio.

Com a ajuda do Irã, outro parceiro de Damasco, e da Turquia, que apoia os rebeldes, Putin organizou sete encontros entre a oposição e o regime em Astana, capital do Cazaquistão.

Como resultado, foram criadas quatro zonas de "distensão" na Síria.

O presidente russo também anunciou que em breve um "Congresso do Diálogo Nacional" seria realizado na Rússia com todos os atores do conflito sírio.

Como bom estrategista, Putin sabe, no entanto, que não poderá impor sua solução sem o apoio da ONU e, por essa razão, já salientou que este congresso deve servir de estímulo para o processo de Genebra.

Para contrabalançar o peso de Moscou, a França convocou uma reunião nesta terça-feira de manhã em Genebra com os outros quatro membros permanentes do Conselho de Segurança - Estados Unidos, China, Rússia e Reino Unido - na presença de De Mistura.

O emissário estimou em 250 bilhões de dólares o custo para a reconstrução da Síria, devastada após mais de seis anos de conflito, que causou mais de 340 mil mortes e milhões de deslocados.

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