O desencanto da Primavera Árabe no Egito sete anos depois
Os cartazes da campanha do presidente Abdel Fatah al-Sissi invadiram as ruas do Cairo antes da eleição no final de março, mas alguns jovens que participaram da Primavera Árabe de 2011 decidiram boicotar um pleito que consideram "viciado".
"Desde a última eleição presidencial (em 2014), estamos em um terreno escorregadio: nada melhora", lamenta Sami, de 31 anos, um egípcio de classe média que pediu, como todos os entrevistados dessa reportagem, para não ser identificado por seu nome verdadeiro.
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Assim como ele, primeiramente milhares, e então centenas de milhares de egípcios acamparam no início de 2011 durante 18 dias no centro do Cairo para reivindicar a saída do presidente Hosni Mubarak, que dirigia o Egito com mão de ferro há mais de 30 anos.
Mubarak teve de renunciar, o que fez dele o segundo presidente da região a cair pela chamada "Primavera Árabe", na esteira do tunisiano Zine El Abidin Ben Ali.
Após a revolta, as principais autoridades da era Mubarak foram detidas, e os casos de violência policial foram julgados - um dos gatilhos das manifestações.
"Era um momento de esperança incrível, não havia limites", lembra Sami.
Em junho de 2012, Mohamed Mursi, membro da confraria Irmandade Muçulmana, tornou-se o primeiro presidente democraticamente eleito no Egito. Alguns meses depois, a rua se fez ouvir mais uma vez. Os egípcios voltaram a se manifestar, denunciando o giro autoritário das autoridades e o poder crescente da confraria no país.
Al-Sissi, então ministro da Defesa, deu um ultimato, ao fim do qual as Forças Armadas derrubaram Mursi em julho de 2013. No ano seguinte, Al-Sissi foi eleito presidente e instalou na sequência um regime autoritário que reprimiu, metodicamente, toda e qualquer oposição - islamista, laica, ou liberal.
Para Sarah, de 31 anos, trata-se de um recuo brutal, se for considerada a esperança de mudança alimentada em 2011, quando se somou às manifestações "animada por ter eleições livres e por votar em eleições, nas quais o voto podia fazer a diferença".
Quando Sami se uniu aos protestos de 2011, esperava "liberdade". Depois dos anos turbulentos que se seguiram à revolta, porém, muitos "optaram pela tranquilidade" com a esperança de obter segurança e estabilidade econômica. "Hoje, o resultado é nulo e, economicamente, todo o mundo está sob pressão", lamenta Sami.
Em novembro de 2016, em plena crise econômica, o governo decidiu deixar flutuar a moeda, fazendo-a perder mais da metade de seu valor em relação ao dólar. Os preços dispararam.
Al-Sissi aspira a um segundo mandato de quatro anos na eleição que acontece de 26 a 28 de março. Ele é desafiado nas urnas pelo chefe do partido liberal Al Ghad, Musa Mostafa Musa. Os outros prováveis candidatos foram detidos, ou se retiraram da disputa, denunciando pressão das autoridades.
"Puseram alguém como em um espetáculo, para poder dizer que há competição", disse Sarah, com ironia. "Não vou votar em uma eleição viciada", afirma.
Socialmente estamos frustrados", acrescenta Sami, que lamenta uma "histeria de segurança" por parte do governo. Para Safeya, de 31 anos, "a situação é pior do que antes": "Prendem, ameaçam, condenam à morte, porque têm medo de que a gente se rebele de novo", insiste.
As ONGs acusam as autoridades de violarem os direitos humanos, de desaparecimentos forçados, de cometerem detenções arbitrárias e de detenções ilegais. Já o governo nega as acusações e insiste em que os abusos são poucos e que seus autores são julgados.
Com a eleição cada vez mais próxima, Sami não quer nem pensar nela, enquanto Sarah pensa no trabalho e no futuro. "Procuro trabalho em outro lugar, até em outros países onde nunca tinha pensado antes", desabafa, concluindo: "perdi toda esperança aqui".
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