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Com suspensão de voos do Panamá, Maduro deixa a Venezuela ainda mais isolada

Federico Parra/AFP
Imagem: Federico Parra/AFP

Em Caracas

06/04/2018 19h59

Indignados, os venezuelanos viram sua sensação de frustração aumentar depois da decisão do governo de suspender os voos da Copa, sua principal via de conexão, um passo a mais no crescente isolamento internacional do país.

A medida faz parte da suspensão, por três meses prorrogáveis, das relações econômicas com funcionários de alto escalão e empresas do Panamá, anunciada na quinta-feira pelo governo de Nicolás Maduro. Isso provocou a saída do embaixador panamenho de Caracas e o chamado a consultas do venezuelano.

Delcy Rodríguez, presidente da governista Assembleia Constituinte que rege o país como um suprapoder, defendeu nesta sexta-feira (6) a medida como resposta à "agressão" que significaram as sanções impostas pelo Panamá em 29 de março contra Maduro e outros 55 funcionários venezuelanos.

Os dois países justificam as medidas na proteção de seus sistemas financeiros, acusando-se mutuamente de favorecer a lavagem de dinheiro.

"A reação é desproporcional e os afetados são os venezuelanos. Estamos cada vez mais isolados: no hemisfério, a Venezuela será a única ilha em um continente; no mundo, a Coreia do Norte e nós", disse à AFP a internacionalista Milagros Betancourt.

Centenas de venezuelanos e alguns estrangeiros confusos se aglomeravam nesta sexta-feira nos dois principais aeroportos, Maiquetía (que serve a Caracas) e Maracaibo (oeste), onde funcionários da Copa explicavam que poderiam receber o reembolso da passagem, ou mudar de destino.

"Eu não quero o reembolso da minha passagem, o que eu quero é sair do país", disse, incomodada, no aeroporto de Maracaibo, Victoria Martínez, de 34 anos, que ia voar para o Chile, emigrando como fizeram milhares de venezuelanos nos últimos anos.

'Fantoches e súditos'

Vivendo uma severa crise, o país petroleiro viu 12 companhias aéreas se retirarem desde 2014 devido a dívidas milionárias, e somente 10 estão em operação, sete delas para a Europa.

A Copa é a que oferece mais frequências entre a Venezuela e o mundo - dez voos de chegada e saídas diárias - e é vital para a conexão com o resto da América Latina.

As tensões internacionais da Venezuela subiram de tom em uma troca de acusações e sanções progressivas.

"O governo esqueceu que a negociação é a base das relações internacionais, não o confronto", acrescentou Betancourt.

O governo de Maduro acusa de súditos dos Estados Unidos países e blocos que no último ano impuseram sanções à Venezuela, denunciando uma deriva autocrática do governo.

Com a chegada de Donald Trump ao poder, os Estados Unidos adotaram sanções contra autoridades venezuelanas e medidas econômicas que agora ameaçam chegar a um embargo petroleiro, um ponto sensível por se tratar do principal comprador do petróleo venezuelano (33%).

Embora tenha resistido a fazê-lo por um tempo, a União Europeia também impôs sanções a funcionários e um embargo de armas e de material suscetível a ser usado para a "repressão". Em 28 de março, a Suíça se somou com medidas conta sete cargos de alto escalão, que não podem entrar nem passar por este país.

Em uma nova arremetida contra seu contraparte francês, Emmanuel Macron, que desqualificou as eleições de 20 de maio, Maduro o chamou na quinta-feira de "fantoche de Trump" e "pistoleiro da oligarquia francesa".

'Como fera atacada'

Em uma América Latina que deu uma guinada à direita, os apoios incondicionais de Caracas continuam sendo Cuba, Bolívia e Nicarágua, com os quais compartilha uma forte retórica contra os Estados Unidos.

Em agosto de 2017, o Mercosul decidiu por unanimidade suspender a Venezuela do bloco, tanto que os 14 países do chamado "Grupo de Lima" não reconhecem as próximas eleições.

"O governo responde automaticamente como uma fera atacada e encurralada, porque o mundo se tornou pequeno e ele mesmo aprofunda o isolamento", declarou à AFP o analista Luis Salamanca.

Fora da região, Caracas recebe o apoio da China, com investimentos e créditos milionários (a dívida é de 28 bilhões de dólares) em troca de petróleo e concessões mineradoras; e da Rússia, com quem tem uma estratégica cooperação militar e petroleira.