Aliados dos EUA preocupados com retirada americana da Síria
Paris, 20 dez 2018 (AFP) - França e Reino Unido, aliados dos Estados Unidos na luta contra o grupo Estado Islâmico, reagiram energicamente à decisão de Donald Trump de retirar as tropas americanas alocadas na Síria, insistindo que a organização extremista está longe de ser derrotada e que a luta "continua".
"A coalizão internacional contra o Daesh (acrônimo em árabe do EI) fez enormes progressos (...) Mas resta muito a ser feito e não podemos perder de vista a ameaça que supõe", indicou a diplomacia britânica em um comunicado.
"O Daesh não foi varrido do mapa, tampouco as suas raízes. Temos que vencer militarmente e de forma definitiva os últimos redutos desta organização terrorista", disse, por sua vez, a ministra francesa do Exército, Florence Parly.
Na quarta-feira, Trump surpreendeu seus aliados afirmando que é hora de os soldados americanos na Síria "voltarem para casa". "Vencemos o EI (...) Recuperamos o território e agora é hora de nossas tropas voltarem para casa", escreveu no Twitter.
Atualmente há 2.000 soldados americanos no norte da Síria, essencialmente forças especiais que lutam contra o EI e treinam as forças locais nas zonas retomadas dos extremistas.
O presidente russo, Vladimir Putin, cujo país está presente na Síria junto com o regime de Damasco, considerou que era uma decisão "justa".
Turquia e Irã, dois atores-chave na Síria, falaram nesta quinta-feira sobre o potencial impacto desta retirada durante uma reunião em Ancara de seus presidentes, Recep Tayyip Erdogan e Hasan Rohani.
- Oportunidade para o EI? -Desde 2014 e de sua ascensão, o EI perdeu a maior parte do seu "califado" autoproclamado pelas ofensivas sucessivas.
Em 14 de dezembro, o EI foi expulso de Hajin, na fronteira com o Iraque, por uma força dominada pelos curdos com o apoio de Washington.
Mas a organização mantém alguns redutos e continua cometendo atentados nos países da região e no exterior.
Os curdos sírios temem que a retirada dos Estados Unidos permita a reconstrução do EI. "Terá um impacto negativo na campanha antiterrorista", declararam as Forças Democráticas Sírias (FDS), a aliança curdo-árabe na linha de frente da luta contra o EI.
As FDS também anunciaram a sua intenção de continuar a ofensiva contra o EI no leste da Síria apesar da decisão de Washington. "A batalha (no reduto) de Hajin continua por enquanto", disse à AFP o porta-voz das FDS.
A milícia curda YPG, o principal componente das FDS, mas que enfrenta a Turquia, está sob ameaça de uma ofensiva turca que lhe obrigaria a abandonar a luta contra o EI.
França e Reino Unido declararam que continuarão comprometidos na coalizão contra o EI sob direção americana, em particular em sua campanha de bombardeios aéreos.
"Por enquanto, naturalmente, continuamos na Síria", afirmou a ministra francesa de Assuntos Europeus, Nathalie Loiseau.
A Alemanha, por sua vez, assegurou que a retirada poderia prejudicar a luta contra o EI. "O EI retrocede, mas a ameaça não acabou", disse o ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas.
Uma retirada dos Estados Unidos - cujo calendário ainda é desconhecido - deixaria o campo livre às forças que têm o apoio da Rússia e do Irã, de um lado, e da Turquia, do outro.
Junto com a Rússia, o Irã é um aliado do regime de Damasco, enquanto a Turquia apoia uma parte dos rebeldes que lutam contra o presidente sírio, Bashar al-Assad.
Trump já havia anunciado durante a sua campanha eleitoral que considera a presença dos Estados Unidos no Oriente Médio um gasto enorme e pede a outros países, particularmente os do Golfo, que assumam seu papel.
No entanto, vários membros de sua administração são favoráveis à manutenção de uma presença. "Os generais do presidente não têm ideia de onde essa decisão veio", disse o senador conservador Ben Sasse em um comunicado.
Na semana passada, o emissário dos Estados Unidos para a coalizão internacional contra os extremistas, Brett McGurk, afirmou que os americanos ainda devem ficar na Síria por um tempo.
Em várias ocasiões, o secretário da Defesa americana, Jim Mattis, alertou para o risco de uma saída precipitada da Síria que poderia "deixar um vazio que pode ser aproveitado pelo regime de Assad ou seus aliados".
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