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Ataques assustam população do Ceará e Bolsonaro denuncia terrorismo

12/01/2019 20h38

Fortaleza, 12 Jan 2019 (AFP) - A onda de ataques que se espalhou pelo Ceará entrou neste sábado (12) no décimo primeiro dia, diante de uma população assustada por atos de vandalismo, que o presidente Jair Bolsonaro qualificou de "terrorismo" e que o envio da Força Nacional de Segurança não conseguiu frear.

"Suas ações, como incendiar, explodir... bens públicos ou privados, devem ser tipificados como TERRORISMO", tuitou esta manhã o presidente.

Desde o início dos distúrbios, em 2 de janeiro, as autoridades locais contabilizaram mais de 200 ataques em 43 cidades cearenses e a Polícia deteve mais de 330 pessoas.

Esta onda de violência foi desatada depois que o novo secretário estadual de Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque, anunciou um endurecimento das condições da detenção para impedir que facções criminosas comandem suas operações de dentro dos presídios.

Nos últimos dez dias, integrantes de bandos de narcotraficantes atacaram bancos, ônibus e inclusive delegacias, semeando o medo na população de um dos estados mais violentos do país, com nove milhões de habitantes.

Os ataques - que começaram na capital, Fortaleza, e se estenderam depois para o interior do estado - afetaram a circulação de ônibus, a coleta de lixo e o funcionamento de lojas.

"Na realidade, é insegurança total porque ficou bem complicado. A gente está à mercê dos bandidos", contou à AFP Juliana Monteiro, uma caixa de 31 anos que trabalha em Fortaleza e que há dias não sabe como voltar para casa depois do expediente.

Na madrugada deste sábado, criminosos derrubaram uma torre de transmissão de energia elétrica em Maracanaú, arredores de Fortaleza, onde alguns bairros ficaram sem luz durante horas. Uma bomba também explodiu na porta de uma concessionária de veículos.

A chegada de 300 homens da Força Nacional de Segurança, há uma semana, diminuiu a intensidade dos ataques, mas não conseguiu erradicá-los, e por isso um novo contingente de 200 homens foi enviado na terça-feira.

Embora seja possível ver efetivos desta força patrulhando as ruas de Fortaleza, os altos de vandalismo continuaram, afetando também o turismo em um estado com praias paradisíacas e muito procurado no verão.

"A gente não tem com quem confiar, então a gente não tem garantia de nada, de segurança... Então, está realmente ruim de sair na rua", disse Daila de Queiroz, vendedora de 23 anos.

- Sem recuo -A crise no Ceará é o primeiro grande teste na área de segurança pública do governo do presidente Bolsonaro, que assumiu o cargo em 1º de janeiro. O capitão do Exército na reserva prometeu durante a campanha combater a criminalidade com firmeza.

Em seu tuíte deste sábado, o presidente citou o "projeto de lei PLS 272/2016", do senador Lasier Martins (PDT/RS), que "altera a Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016, a fim de disciplinar com mais precisão condutas consideradas como atos de terrorismo", entre os quais o presidente já disse querer incluir as ocupações feitas por organizações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O governador do Ceará, Camilo Santana, do PT, havia pedido em duas oportunidades o envio da Força Nacional antes de o novo ministro da Justiça, Sérgio Moro, autorizá-la na sexta-feira passada.

Na quinta, Santana disse que os atos de violência eram uma reação do crime organizado à suspensão de privilégios nos presídios feita por seu governo e que ele não pensa voltar atrás.

Os planos de sua administração, em especial do secretário de Administração Penitenciária, desataram a ira de facções de narcotraficantes, que chegaram a deixar suas rivalidades internas de lado para intensificar os ataques.

Estas mudanças, que pretendem reduzir a criminalidade no terceiro estado com maior taxa de homicídios do país, incluem o bloqueio de sinais de celulares nas prisões e o fim da separação de detentos por facções que controlam os presídios.

O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo, atrás de Estados Unidos e China, com quase 730.000 detentos em 2016. As penitenciárias sofrem com superlotação e são frequentemente cenário de confrontos brutais entre facções do crime organizado.