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Corrida presidencial dos EUA pode ter número recorde de mulheres em 2020

Elizabeth Warren, senadora democrata pelo Estado de Massachussetts - Justin Sullivan/Getty Images/AFP
Elizabeth Warren, senadora democrata pelo Estado de Massachussetts Imagem: Justin Sullivan/Getty Images/AFP

28/01/2019 09h58

Dois anos depois de Hillary Clinton fracassar em sua tentativa de chegar à Casa Branca, um número sem precedentes de mulheres está na corrida para destronar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confiantes de que os eleitores estarão prontos para romper uma barreira histórica.

No último dia de 2018, a senadora por Massachusetts Elizabeth Warren, de 69 anos, foi a primeira democrata a anunciar sua intenção de se candidatar.

As senadoras Kirsten Gillibrand, de 52 anos, e Kamala Harris, de 54, assim como a congressista Tulsi Gabbard, de 37, seguiram seu exemplo.

Se somam à corrida presidencial o ex-vice-presidente Joe Biden, o senador Bernie Sanders, o ex-congressista Beto O'Rourke e o magnata Michael Bloomberg.

Por enquanto, porém, as mulheres estão tomando a dianteira das manchetes para a disputa de 2020.

O número de mulheres de alto perfil na carreira presidencial é "historicamente sem precedentes", disse a professora de Ciência Política Erin Cassese, da Universidade de Delaware.

E uma quarta senadora, Amy Klobuchar, pretende se lançar à disputa.

Ao se dirigir a seus simpatizantes na noite da eleição presidencial de 2016, Hillary Clinton reconheceu sua derrota para Trump, pondo fim, assim, à sua corrida para se tornar a primeira presidente dos Estados Unidos.

"Mas algum dia alguém vai fazer isso e, talvez, possamos pensar agora mesmo", disse a então candidata democrata naquela mesma noite.

Seu rival chegou à Casa Branca com uma vitória impressionante, capaz de superar acusações de assédio sexual e uma série de comentários misóginos durante a campanha.

O senador Tim Kaine, companheiro na chapa de Hillary, disse que há "uma justiça poética encantadora nas candidatas fortes" para 2020.

"Se tem algo que eu aprendi em 2016 foi, infelizmente, a crueldade do padrão de dois pesos e duas medidas aplicado à primeira mulher indicada à presidência", disse Kaine à AFP.

"Temos um longo caminho para percorrer para que as mulheres [na política] sejam tratadas como merecem", insistiu, acrescentando que a força demonstrada pelos democratas nas eleições ao Congresso em novembro, nas quais recuperaram o controle da Câmara de Representantes, "provou a grande energia das candidatas".

As últimas eleições de meio de mandato norte-americanas quebraram vários recordes, como o número de mulheres eleitas não apenas para o Congresso, mas para as Assembleias Legislativas nos 50 estados do país.

Com quatro, ou mais candidatas, competindo pela Casa Branca, a política presidencial parece estar passando por uma mudança, "uma onda rosa", como definiu Cassese.

A cientista política duvida, porém, que as candidatas consigam escapar do perfil esperado para as mulheres na política: a obrigatoriedade de parecerem amáveis e competentes.

"É muito difícil para elas fazer as duas coisas ao mesmo tempo", afirmou.

As candidatas às eleições de 2020 - Warren especialmente - já foram avaliadas pelo prisma da "simpatia". Esse olhar raramente é usado para os candidatos masculinos, afirmam observadores, lembrando que foi implacavelmente aplicado a Hillary Clinton, com frequência criticada pela falta de espontaneidade.

As candidatas, segundo Cassese, são em geral forçadas a fazer um "cálculo estratégico": enfatizar os problemas das mulheres, ou minimizar, de propósito, os elementos de gênero de uma campanha e competir "como um 'homem'". Difícil determinar qual funciona melhor.

Conhecida por fazer campanha contra os abusos sexuais, Gillibrand lançou sua corrida presidencial como uma "mãe" dedicada a ajudar as famílias trabalhadoras e em dificuldades.

Outras se fixam menos no gênero, mas, de modo algum, apresentam o tema como um tabu.

Os americanos pareceram estar preparados para eleger uma mulher como presidente em 2016, quando Hillary Clinton conseguiu 2,9 milhões a mais de votos do que Trump, apesar de perder na contagem do Colégio Eleitoral estado por estado.

Kamala Harris, que se tornaria a primeira mulher negra e a primeira de origem indiana em caso de vitória, não tem dúvida de que os eleitores americanos estão preparados para eleger uma mulher que tire Trump do poder.

"Totalmente", disse ela à rede ABC antes de anunciar sua candidatura oficial. "Deem crédito às pessoas. São mais inteligentes do que isso", afirmou.