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Irã relembra retorno de Khomeini, 40 anos após Revolução

29/01/2019 10h06

Teerã, 29 Jan 2019 (AFP) - "Foi há 40 anos, mas eu ainda me lembro de ter escalado as grades da Universidade de Teerã para ver o que estava acontecendo", conta Majid Heidarnik, hoje professor em Qom, centro teológico do Irã.

Em 1º de fevereiro de 1979, ele fazia parte da multidão de milhões de iranianos que tomava as ruas da capital na expectativa de ver seu imã venerado, o aiatolá Khomeini, de volta ao país depois de mais de 14 anos de exílio.

Dezesseis dias depois e na esteira de meses de protestos contra seu governo, o xá Mohamed Reza Pahlavi fugiu, e o Irã esperava apenas uma coisa: o retorno daquele que havia conduzido a Revolução Islâmica e que viria a pôr fim a 25 séculos de monarquia.

Tomado do fervor revolucionário, Heidarnik rapidamente abandonaria seus estudos de Informática na universidade para ingressar no seminário.

"Estávamos lá para ver a única pessoa que ousou resistir e protestar. Estávamos prestes a ver nosso líder em carne e osso", disse à AFP.

A excitação da população era palpável, assim como a ansiedade, com duas questões na superfície diante da chegada do aiatolá: o avião, no qual líder religioso embarcou em Paris, estava autorizado a aterrissar? Seria alvo de disparos do Exército, que oficialmente ainda apoiava o xá?

Ao longo de sua visita anual ao mausoléu do aiatolá Khomeini, no sul de Teerã, Golberar Naghipour, um agricultor de 62 anos, ainda se lembra desse momento de nervosismo.

"Chorávamos de alegria, mas também tínhamos muito medo. O país ainda estava sob o controle do regime do xá", explicou.

- 'Visão revolucionária' -Em sua morte, em junho de 1989, o aiatolá Khomeini foi enterrado perto de cemitério Behecht-e Zahra, mesmo local onde jazem vários opositores do xá.

Sua sepultura está, hoje, no centro de um imenso conjunto composto de mesquitas, escolas alcorânicas e bibliotecas, aliando uma arquitetura moderna ao respeito da tradição das artes islâmicas persas.

Quase 30 anos depois de sua cerimônia fúnebre, uma das mais grandiosas da história moderna do país, o monumento recebe milhões de iranianos todo o ano e se tornou lugar de peregrinação.

O cemitério Behecht-e Zahra foi o primeiro destino do líder da Revolução, após a aterrissagem do avião da Air France, fretado especialmente para sua volta. Lá fez seu primeiro grande discurso, convocando o fim da monarquia.

"Serei eu que, a partir de agora, vou designar o governo", declarou.

Religioso austero e carismático, o aiatolá operou a síntese de uma retórica de extrema esquerda popular à época - antiocidental, anticolonial e inspirada na luta de classes - e do culto dos santos mártires, caro aos xiitas, para construir uma visão revolucionária do Islã político.

Para alguns iranianos, como o professor Heidarnik, essa visão da República Islâmica está sempre, porém, "em vias de conclusão".

O 40º aniversário da Revolução se completa em um momento difícil, com a economia nacional afetada pelo restabelecimento de sanções, após a saída dos Estados Unidos do acordo a questão nuclear iraniana. Em maio de 2018, o presidente Donald Trump anunciou sua retirada desse pacto.

Esse quadro se somou a problemas antigos de má administração e corrupção, denunciados com frequência por autoridades políticas iranianas de todos os matizes, que acusam o governo atual de abandonar a visão austera do pai da Revolução.

"Quando o povo vê o custo de vida aumentar, (os líderes políticos) deveriam se dar conta de que todo o mundo sofrem, que não deveria haver diferenças (entre as classes). Algumas pessoas pregam uma prática austera do Islã e vivem, porém, como aristocratas", reclama Heidarnik.

Aos olhos dos peregrinos que visitam o mausoléu, é a imagem de um Khomeini altruísta e incorruptível que prevalece.

"O imã sacrificou tanto pelo país. Ele não queria nada que fosse apenas para ele", diz Maryam Yazdan-nejad, uma dona de casa de 57 anos que cobre, todos os anos, o trajeto de Machhad.

Para o professor Heidarnik, são os inimigos do Irã que são diretamente responsáveis pela situação atual, buscando - segundo ele - desviar o país do Islã.

"Infelizmente, pessoas se infiltraram não apenas na economia, mas também na educação e no sistema político", acrescentou.

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