Após cúpula sobre pedofilia, Igreja é pressionada a aplicar resoluções
Cidade do Vaticano, 25 Fev 2019 (AFP) - Um dia após o encerramento da cúpula histórica no Vaticano sobre a luta contra a pedofilia, a sociedade civil e as congregações religiosas estão se organizando para garantir que a Igreja Católica realmente coloque em prática suas boas resoluções.
Depois de três dias de debates, o papa Francisco prometeu no domingo uma "luta em todos os níveis", mas a falta de medidas concretas e sua insistência em dizer que os pedófilos não são todos os padres irritaram as vítimas.
Para mostrar sua boa fé, o Vaticano anunciou que uma reunião interministerial foi realizada na manhã desta segunda-feira no Vaticano sobre a proteção dos menores, o "primeiro efeito concreto" da cúpula.
Depois da cúpula, "pareceu claro que tal acontecimento deve ser seguido por medidas concretas como exigido pelo povo de Deus", explicou a Santa Sé, afirmando que os documentos e grupos de trabalho prometidos no domingo se apoiariam na escuta das vítimas e num maior envolvimento dos leigos.
Neste contexto, as associações "End clergy abuse" (ECA") e "Bishop accountability", as mais ativos à margem da cúpula, apresentaram em frente à Praça de São Pedro um "plano de guerra" em 21 pontos, o mesmo número de pontos de reflexão propostos pelo papa no início da cúpula.
"O papa anunciou uma batalha contra os abuso de menores, mas com as armas mais fracas imagináveis. Se colocar em prática esses 21 pontos, acabaria com essa praga de uma vez por todas", disse Anne Barrett Doyle, codiretora da Bishop Accountability.
A lista pede que qualquer padre culpado de abusar de um menor e qualquer bispo que o tenha encoberto seja imediatamente entregue à justiça civil, que imponha às igrejas locais o pagamento de indenizações às vítimas e que assumir os gastos médicos e psicológicos que possam precisar.
Também pede o estabelecimento de registros públicos e documentados de todos os padres, religiosos e religiosas que abusaram de crianças e sobre todos os que os encobriram, bem como garantias sobre a supervisão dos que ainda estão vivos.
- "Eles nos escutam" -Peter Isely, porta-voz da ECA, revoltou-se com o fato de o Vaticano não estar pronto para assegurar que todos os padres culpados de abusos contra oito vítimas que testemunharam na cúpula sejam punidos.
"Isso significa que esses lobos insaciáveis (uma expressão do papa) talvez ainda estejam por aí neste momento, destruindo crianças?", insistiu.
Ainda assim, as duas organizações se mostraram otimistas: "As pessoas ouvem a nossa voz em todo o mundo agora. E eles nos ouvem. E os promotores começam a nos ouvir realmente, assim como os governos".
E a hierarquia da Igreja terá que "ouvir essas pessoas".
Na segunda-feira, as freiras também prometeram ouvir melhor. Pela primeira vez em uma reunião de bispos, dez membros da direção da União Internacional de Superiores Gerais (UISG), que representa as superiores de mais de 600.000 freiras em todo o mundo, foram convidadas para a cúpula.
"Agora, a questão toda é colocar em prática vários mecanismos, seguir diretrizes claras, para garantir que isso nunca aconteça novamente devido à nossa apatia ou à nossa cegueira", disse a repórteres a irmã Patricia Murray, religiosa irlandesa e secretária-geral da UISG.
As irmãs já planejam oficinas de sensibilização e treinamento em Roma ou na internet.
"O trabalho mais importante é dar esperança às vítimas e às crianças", explicou a irmã Veronica Openibo, uma freira nigeriana que se dirigiu aos bispos de maneira muito direta na cúpula. "Porque se não agirmos agora, será tarde demais, e a credibilidade da Igreja está em jogo."
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