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UE rejeita 'ultimato' do Irã sobre acordo nuclear; Trump está disposto a dialogar

09/05/2019 21h13

Berlim, 10 Mai 2019 (AFP) - Fiéis a sua defesa do acordo nuclear com o Irã, as potências europeias signatárias do pacto rejeitaram nesta quinta-feira (9) o "ultimato" feito por Teerã, que na véspera anunciou o descumprimento parcial, recrudescendo a tensão com os Estados Unidos, cujo presidente, Donald Trump, disse estar "aberto a falar".

O Irã anunciou ontem que deixará de aplicar dois de seus compromissos do acordo internacional assinado em 2015 com Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha, uma resposta à decisão unilateral de Washington de abandonar o pacto em 2018 e restabelecer sanções.

Teerã ameaçou ainda renunciar a outros compromissos, caso os demais signatários do acordo não encontrem uma solução no prazo de 60 dias para aliviar os efeitos das sanções americanas contra o Irã, em particular nos setores petroleiro e bancário.

"Rejeitamos qualquer ultimato e avaliaremos o cumprimento por parte do Irã de seus compromissos nucleares", advertiram Alemanha, França e Reino Unidos, assim como a alta representante da UE para Política Externa, Federica Mogherini, em uma declaração conjunta.

O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, criticou a declaração conjunta, estimando que "os Estados Unidos intimidaram a Europa" e que "a UE pode apenas expressar seu pesar".

Entretanto, o presidente Trump disse que gostaria que os líderes iranianos ligassem para ele. Em diálogo com jornalistas na Casa Branca, Trump acrescentou que "deveriam ligar (...) Se o fizerem, estamos abertos a falar com eles".

"O regime de Teerã deve saber que qualquer ataque de sua parte ou de seus delegados, sejam quem forem, contra os interesses ou os cidadãos dos Estados Unidos vai receber uma resposta rápida e firme dos Estados Unidos", disse o secretário de Estado, Mike Pompeo, na mais recente das advertências americanas.

Estas mudanças ocorrem em um clima de crescente tensão entre o Irã e os Estados Unidos, que anunciaram nesta terça-feira o envio de bombardeios B-52 e uma frota ao Golfo, enquanto os europeus pediram que Teerã evite uma escalada e lamentaram que os Estados Unidos imponha novas sanções.

Horas depois do anúncio da República Islâmica, la administração americana voltou a endurecer suas sanções.

"Autorizar o aço e outros metais iranianos em seus portos não será mais tolerado", avisou Trump aos outros países.

A Rússia condenou "com firmeza" nesta quinta-feira as novas sanções americanas contra o Irã e pediu negociações de todas as partes para tentar salvar o acordo, vista "a gravidade do que está acontecendo".

- Fortalecer o euro -Como no caso da crise na Venezuela ou da aproximação com Cuba, a posição da UE sobre o Irã se confronta com a dos Estados Unidos porque, na avaliação do chefe do governo austríaco, Sebastian Kurz, "continuará sendo uma questão difícil".

Validado por uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o acordo permitiu ao Irã obter uma suspensão parcial das sanções internacionais às quais estava submetido, em troca de limitar seu programa nuclear.

Mas ao julgar que o acordo não oferecia garantias suficientes, Donald Trump retirou os Estados Unidos do pacto há um ano e restabeleceu sanções contra Teerã, algo que afetou duramente sua economia e suas relações comerciais com outros países.

Os europeus enfrentam um sentimento de impotência, já que não têm nenhum tipo de influência sobre Trump e são alvo também das críticas de Teerã por não conseguir compensar as consequências das sanções de Washington.

Embora o resto dos signatários prometeu permitir que o Irã se beneficie das vantagens econômicas do acordo, o mecanismo criado pela UE para continuar comercializando e eludir as sanções dos Estados Unidos não permitiu nenhuma transação.

O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu transformar o euro em uma moeda de referência alternativa ao dólar. "Quando se conseguir isto, nenhum banco ou empresa europeia dirá mais que tem medo de fazer comércio com o Irã".

- "Muito preocupante" -As possibilidades de preservar o acordo, como pediu o secretário-geral da ONU, António Guterres, são "cada vez mais frágeis", indicaram à AFP AFP vários encarregados europeus, para quem a única esperança é convencer o Irã.

"Por enquanto, os anúncios iranianos não são uma violação ou uma saída do acordo nuclear", indicou à AFP um alto funcionário europeu, para quem a situação é "muito preocupante".

O Organismo Internacional da Energia Atômica "dirá no fim de maio em seu informe se o Irã continua respeitando seus compromissos ou se os viola", disse outro encarregado, advertindo para a adoção de sanções contra Teerã.

O Irã, potência xiita no Oriente Médio e confrontada com a sunita Arábia Saudita, anunciou que já não respeitará as restrições referentes às reservas de água pesada e de urânio enriquecido pelo descumprimento de Washington.

E advertiu que, se ao final de 60 dias, os outros países não encontrarem uma solução, deixará de respeitar também as restrições sobre o grau de enriquecimento de urânio ou as medidas relativas à modernização do reator da água pesada de Arak, no centro do Irã.