Fim dos ataques no nordeste da Síria após anúncio de trégua
Ariha, Síria, 2 Ago 2019 (AFP) - O regime sírio e seu aliado russo cessaram nesta sexta-feira (2) os ataques em áreas de Idlib dominadas pelos jihadistas, um dia após o anúncio de um cessar-fogo na região do nordeste da Síria, atingido por três meses de bombardeios quase diários.
Desde o final de abril, a força aérea síria bombardeava essa província e regiões adjacentes controladas por jihadistas ou rebeldes nas províncias de Alepo, Hama e Latakia. Pelo menos 790 civis morreram, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
"Desde que as aeronaves síria e russa abandonaram o céu de Idlib pouco antes da meia-noite reina uma calma prudente", afirmou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, que também informou sobre um cessar-fogo nos combates em terra.
No entanto, de acordo com o OSDH, as forças pró-regime lançaram obuses no norte de Hama e foguetes rebeldes contra Latakia, onde a agência oficial de Sana relatou um morto e três feridos.
Na noite de quinta-feira, o regime de Bashar al Assad anunciou uma trégua nesta região, condicionando-a à aplicação de um acordo de distensão firmado em setembro de 2018 entre Rússia e Turquia para criar uma área desmilitarizada em Idlib, que deve separar os territórios dominados pelos jihadistas e os rebeldes dos controlados pelo governo.
Esse acordo não foi totalmente respeitado. Os jihadistas se recusaram a se retirar das cidades que deveriam fazer parte da zona desmilitarizada.
A Rússia, que afirma dirigir suas ações contra "terroristas" em Idlib, saudou a iniciativa do regime.
- Advertência dos jihadistas -Numa primeira reação, os jihadistas do grupo Hayat Tahrir al Sham (HTS, antigo braço sírio da Al Qaeda), que controlam grande parte de Idlib, advertiram que eles vão responder a qualquer violação da trégua pelo inimigo.
"Todo bombardeio ou agressão" contra Iblid e seu entorno "levará à ruptura do cessar fogo da nossa parte", informou o HTS através de um comunicado.
O anúncio de trégua coincidiu com a 13ª rodada de negociações sobre a Síria patrocinada pela Turquia - que apoia os rebeldes - e Rússia e Irã - que apoiam Asad- em Nursultan, capital do Cazaquistão.
O enviado da Síria a Nursultan, Bashar Khaafari, avaliou que a trégua é "uma prova das intenções da Turquia" e seu respeito aos "acordos sobre o desarmamento dos terroristas".
Com a ajuda de Moscou e Teerã, o regime sírio reconquistou mais de 60% do território. Além do Idlib, vastas regiões no leste e nordeste são controladas por forças curdas apoiadas por Washington.
Para o analista Samuel Ramani, al Assad "não vai tolerar Idlib fique fora de seu controle." "Eu não vejo o cessar-fogo durar" por um longo tempo, diz o especialista em conflitos sírios, da Universidade de Oxford.
"Trata-se de um esquema provavelmente instigado pela Rússia para fortalecer a credibilidade das negociações" no Cazaquistão, acrescentou.
- "Quantas tréguas?" -A desconfiança reinou entre a população. "O regime não é confiável e não acreditamos nele porque já violou as tréguas mais de uma vez", garante Abou Mohamad, um morador de Ariha, em Idlib.
"Quantas tréguas e reuniões já foram feitas? São uns desonestos. Em cada trégua, tomam uma região e nos enganam", lamenta Abou Abdo, que perdeu a esposa e dois filhos na guerra.
Para o analista Nawar Oliver, do centro Omran baseado na Turquia, os grupos que enfrentam o regime de Assad estão entre a espada e a parede.
"Se não aceitam (a trégua), a Rússia continuará bombardeando áreas civis e cometendo massacres" e se aceitam, "são incapazes de confiar na Rússia", destacou.
A escalada da violência na região deixou mais de 400 mil desabrigados desde abril, segundo a ONU.
A guerra na Síria, que eclodiu em 2011 após a dura repressão do governo às manifestações pró-democracia, já matou 370 mil pessoas e deixou milhões de refugiados.
ohk-lar/bek/mdz/tp/mis/eg/lca
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