Chile: Governo se reúne com organizações sociais para acabar com crise
Santiago, 29 Nov 2019 (AFP) - O governo do Chile se reuniu nesta quinta-feira (28) pela primeira vez com organizações sociais desde o início dos protestos, há 42 dias, onde são registrados episódios de violência e saques que não cessam e sem um fim à vista.
Convocada pelo governo Piñera, a reunião significou uma primeira abordagem, mas ainda não se traduz em um caminho mais concreto de negociação eficaz para acabar com a crise que atinge fortemente a economia do país e desvaloriza o peso, forçando o Banco Central para intervir no mercado de câmbio com a injeção de 20 bilhões de dólares de dezembro até o fim de maio.
O encontro reuniu representantes do governo e o chamado Conselho da Unidade Social, que conta, entre outros, com o Sindicato dos Professores, a Central Unitária de Trabalhadores e a organização "No + AFP", que busca encerrar o criticado sistema de aposentadoria privada (AFP).
"Fomos muito claros sobre não estarmos disponíveis para uma negociação pelas costas das pessoas, que não é nosso espírito, que são eles que precisam dar respostas agora às demandas apresentadas", disse Mario Aguilar, presidente do Sindicato dos Professores.
Sem líderes mais destacados, o Conselho da Unidade Social ganhou terreno. Entre as solicitações dessa organização, está o aumento do salário mínimo dos atuais 374 dólares para 664 dólares e a substituição do sistema de previdência privada, para dar lugar a uma distribuição.
O ministro do Interior, Gonzalo Blumel, que presidiu a reunião, disse: "Concordamos em iniciar um diálogo em torno das questões prioritárias da agenda social", cujos eixos fundamentais são a renda dos trabalhadores, proteção do emprego, acesso à saúde e medicamentos, além da reforma das previdência.
Já a Câmara dos Deputados declarou admissível una "acusação constitucional" contra o ex-ministro do Interior e primo de Piñera, Andrés Chadwick, permitindo assim que o processo político prossiga no Senado.
O Congresso também analisa reformas e leis promovidas pelo governo para maior controle da ordem pública, como um projeto para punir os manifestantes que causam atos de vandalismo e um que busca permitir que os militares protejam a infraestrutura pública.
Socorro do Banco Central
Em meio às violentas manifestações e incidentes que ocorrem diariamente desde 18 de outubro em várias partes do país, tendo seu epicentro em Santiago, na Plaza Italia, onde os manifestantes se reuniram novamente com a Polícia, o mercado de câmbio voltou a mostrar seu nervosismo e levou a um cotação história do dólar, sendo negociado a 828,36 pesos.
O Banco Central entrou em ação e anunciou que vai injetar 20 bilhões de dólares de dezembro a maio de 2020.
O BC justificou sua intervenção no mercado, citando que "um grau excessivo de volatilidade da taxa de câmbio (...) gera preocupações de mercado".
Com esse movimento, o BC aumenta sua aposta a favor do peso que recuou em meados de novembro, injetando cerca de 4 bilhões de dólares no mercado.
Saques
E enquanto o governo tenta avançar em acordos políticos e manobras para proteger a economia, ataques a empresas são registrados em várias partes de Santiago e outras cidades, onde grupos de pessoas - principalmente com antecedentes criminais, segundo fontes judiciais - continuaram a invadir lojas e supermercados.
Numa cerimônia de formação de novos policiais civis, o presidente Piñera disse que "estamos diante de um inimigo poderoso e implacável que não respeita nada nem ninguém, que não respeita a vida dos seres humanos".
Simultaneamente, um grupo de manifestantes feridos pelo uso de balas pela polícia protestou em frente à sede do governo. Fontes médicas indicam que foram atendidas cerca de 300 lesões oculares desde o início dos protestos.
"Perdi minha visão totalmente e, na última quinta-feira, eles conseguiram tirar o fragmento da bala. Eles também tiraram meus olhos e vou ter que usar uma prótese por toda a vida", disse Diego Jara à AFP.
O clima de agitação causou uma nova suspensão de um evento esportivo: uma etapa do Campeonato Mundial de Rally 2020, prevista para abril de 2020.
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