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Com planeta enclausurado, Europa aguarda pico da epidemia

30/03/2020 18h42

Moscou, 30 Mar 2020 (AFP) - A perspectiva de atingir o pico da pandemia nos próximos dias despertou esperança na segunda-feira nos países da Europa mais afetados pelo coronavírus, como Itália e Espanha, apesar da recessão que deverá suceder a doença, devido às medidas de confinamento que já afetam quase metade da população do planeta.

O epicentro da epidemia, que passou da China para a Europa, está se movendo para os Estados Unidos. Nesta segunda-feira chegou um grande navio hospital com mil leitos em Nova York, para dar um alívio aos hospitais congestionados da cidade, a mais afetada pelo Covid-19.

Com mais de 36.000 mortes em todo o mundo, o saldo não para de crescer, principalmente na Europa, onde a Itália excedeu 11.500 mortes, Espanha 7.340 (+812 nas últimas 24 horas) e França 3.000 (+418).

As medidas de confinamento se intensificam para interromper o crescimento da pandemia e as economias sofrem.

O Fundo Monetário Internacional previu nesta segunda-feira uma "profunda recessão" em 2020, dada a "surpreendente ferocidade" com que o vírus atingiu a Europa.

O comitê de especialistas que assessora o governo de Angela Merkel prevê uma queda de 2,8% a 5,4% do crescimento na Alemanha. No entanto, o otimismo de Wall Street deu novo vigor aos mercados europeus que, depois de operar em vermelho a maior parte do dia, fecharam com resultados positivos, ao contrário da Ásia, enquanto o petróleo caiu para níveis de 2002.

Os presidentes da Rússia e dos Estados Unidos, Donald Trump e Vladimir Putin, conversaram por telefone sobre o coronavírus e sobre o colapso dos preços do petróleo, afetado pela queda na atividade e pela guerra de preços travada entre Rússia e Arábia Saudita.

- Pico da curva - Enquanto em países como França, Bélgica, Reino Unido ou Holanda a pandemia se encontra em pleno andamento, na Itália e na Espanha, os países mais afetados pela epidemia até agora, uma luz fraca aparece no fim do túnel.

A Itália registrou um aumento de contágios de 4% na segunda-feira, o menor percentual desde o início da pandemia, embora tenha registrado 812 mortes nas últimas horas, 11.500 no total.

"Esperamos atingir o pico em sete ou dez dias e, logicamente, o contágio diminuirá", explicou o vice-ministro da Saúde, Pierpaolo Sileri.

"Na Lombardia (a região mais afetada), há uma diminuição de casos e, acima de tudo, a pressão nas emergências e a solicitação de ambulâncias diminuíram", disse o conselheiro de saúde da região, Giulio Gallera.

Na Espanha, a "tendência, com medidas de isolamento, está desacelerando", disse María José Sierra, do centro de emergências em saúde.

Enquanto isso, em Nova York, o epicentro da epidemia nos Estados Unidos, cidadãos e autoridades estão se preparando para o pior, com 33.000 infectados e 776 mortos.

"Estamos a duas, três, quatro semanas (do pico do contágio). É necessário nos preparar para o pico, ter material, porque é aí que o sistema entrará em colapso", alertou o governador de Nova York, Andrew Cuomo, para a rede MSNBC.

Com mais de 150.000 americanos infectados nos mais de 750.000 casos oficialmente registrados no mundo, o presidente Donald Trump parou de minimizar a gravidade do coronavírus.

"Potencialmente 2,2 milhões de pessoas" poderiam morrer por causa do coronavírus "se não tivéssemos feito nada", reconheceu o presidente dos EUA no domingo.

Segundo seu assessor sobre a pandemia, Dr. Anthony Fauci, o novo coronavírus pode causar "entre 100.000 e 200.000" mortes na superpotência mundial, que já registrou 2.800.

- Difícil respeitar a quarentena -Com mais de 3,38 bilhões de pessoas instadas a ficar em casa, o que representa 43% da população mundial, o confinamento é difícil de ser realizado em muitos países, especialmente na África e na América Latina.

"Estamos dispostos a respeitar a quarentena, mas como a respeitamos se precisamos procurar água três e quatro vezes por dia? Não quero sair de casa, mas como fazemos?" questiona a venezuelana Eva, uma aposentada de 62 anos que sai com uma máscara e luvas de borracha para procurar água em Caracas, em falta em muitos bairros.

As medidas de confinamento às vezes geram incompreensão na África subsaariana, onde grande parte da população vive com menos de dois dólares por dia e depende da economia alternativa para sobreviver.

No Zimbábue, um dos países mais pobres da África, onde a polícia patrulhava ativamente as ruas de Harare para fazer cumprir a ordem de confinamento, os moradores lamentam a suspensão brutal do transporte.

"Não posso alimentar minha família se não trabalhar", diz Most Jawure.

A situação econômica é preocupante para os países em desenvolvimento e os especialistas das Nações Unidas disseram nesta segunda-feira que são necessários US$ 2 trilhões para ajudá-los a lidar com a pandemia.

Segundo os economistas, são necessários um trilhão de dólares em injeção de fundos, outro trilhão em cancelamento de dívidas e 500 bilhões em subsídios para serviços de saúde de emergência e programas de assistência social.

Na América Latina, onde 348 mortes foram registradas e quase 15.000 infectadas, vários países anunciaram a extensão das medidas de contenção, na tentativa de achatar a curva no início do surto.

A Argentina estendeu o isolamento social obrigatório até 12 de abril, e a Guatemala também estendeu o toque de recolher parcial até então, enquanto El Salvador o manterá até o dia 13.

As boas notícias foram registradas na Colômbia, onde os guerrilheiros do ELN anunciaram um cessar-fogo de um mês devido à pandemia.

Nesta segunda-feira, 39 médicos e enfermeiros cubanos chegaram a Andorra para ajudar as autoridades desse pequeno principado entre Espanha e França, que se torna o segundo Estado europeu, depois da Itália, a receber profissionais de saúde de Cuba em meio a uma pandemia.

burs-af/mb/cc