Topo

Esse conteúdo é antigo

Trump versus Biden: o impacto do coronavírus na eleição presidencial

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos - Drew Angerer/Getty Images
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos Imagem: Drew Angerer/Getty Images

17/05/2020 15h28

A batalha pela reeleição que o presidente Donald Trump travaria contra o democrata Joe Biden seria intensa, mas, com o coronavírus e morte de quase 90.000 americanos, o quadro mudou.

A menos de seis meses das eleições, nenhum candidato pode fazer campanha do jeito convencional, e Trump enfrenta uma espécie de plebiscito ao lidar com a crise atual.

"Realmente não sabemos como vai ser isso", disse à AFP Christopher Arterton, professor de Ciência Política na George Washington University.

Quatro meses antes da pandemia, as narrativas de ambas as partes pareciam claras.

O presidente contava com o bom desempenho da economia e o desemprego historicamente baixo, propondo mais quatro anos na mesma direção e enfatizando seu perfil como empresário de sucesso.

Já o democrata Joe Biden prometia acabar com os escândalos, a polarização e o estilo de "reality show" de gestão do magnata republicano, apelando aos eleitores que se lembrassem dos anos de sua vice-presidência, no governo Barack Obama. Seu objetivo era restaurar "a alma da América".

Biden, de 77, liderava as pesquisas, mas muitos acreditavam que Trump, de 73, assumiria a liderança em 3 de novembro. O último presidente em exercício a perder uma reeleição foi George Bush, em 1992.

Em geral, aqueles que governam em períodos de forte crescimento econômico são praticamente imbatíveis.

Trump percorreu o país multiplicando atos, nos quais busca atender sua base - tradicional, conservadora e machista - com uma mensagem simples: um nacionalismo exacerbado e a volta para os Estados Unidos das empresas que deixaram o país, levando os empregos.

Trump então perguntava abertamente como "Sleepy Joe" (ou "Joe dorminhoco", apelido dado por ele a Biden) iria conseguir derrotá-lo. Mas o coronavírus mudou tudo.

Peso da gestão da pandemia

"Esta eleição será principalmente um referendo sobre o presidente Trump", disse Allan Lichtman, historiador da American University, conhecido por suas previsões precisas sobre as eleições anteriores.

A crise da COVID-19 coloca desafios para os líderes políticos tão importantes ou maiores do que os ataques do 11 de Setembro, ou a crise de 2008.

Seu estilo político de confronto, suas poucas demonstrações de empatia e seu gerenciamento de recursos federais durante a pandemia renderam fortes críticas a Trump.

Segundo a última pesquisa da CBS, 57% dos americanos acham que Trump fez um "mau trabalho", contra 47% em março.

Tudo leva a pensar que Biden tem uma chance de ouro. A questão é: assim como milhões de americanos, o provável candidato democrata passou os últimos dois meses trancado em casa.

Embora Trump tenha desistido dos comícios de que tanto gosta, ainda aparece ocasionalmente no Air Force One e, com frequência, domina as transmissões de notícias noturnas da Casa Branca.

Biden, por sua vez, não foi além de sua horta em Delaware e deve se limitar às plataformas digitais para se comunicar. Ainda assim, estar no centro das atenções não garante a supremacia. O uso que Trump faz da mídia enfurece metade do país.

"Ele expôs todas as suas deficiências, que eram evidentes durante toda a presidência, mas que agora afetam a vida dos americanos no futuro imediato", comentou o porta-voz de Biden, Michael Gwin.

"Existe um ditado antigo" - lembrou Lichtman - "'Nunca interrompa um oponente quando ele está cometendo um erro'".

Na maioria dos dias, Biden critica o presidente no Twitter, como fez na última quinta-feira, quando afirmou que Trump "falhou com o povo americano em todas as frentes". Gwin reforça que atacar não é suficiente.

"Precisamos apresentar uma alternativa melhor", reconheceu.