Rebelião conservadora contra Johnson diante do desastre do Brexit e do coronavírus
Em meio ao novo surto da covid-19, as difíceis negociações pós-Brexit e a economia ameaçada, os tempos são difíceis para o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, acusado de dogmatismo.
Como todos os líderes mundiais, Johnson já passou pela prova em relação ao enfrentamento do novo coronavírus, mas o novo surto no Reino Unido, o país mais castigado na Europa com quase 42 mil mortes —somado aos temores de um Brexit sem acordo até 31 de dezembro - provoca a raiva de uma parte da classe política.
Seus detratores acusam o primeiro-ministro de ter prejudicado deliberadamente as relações com Bruxelas ao apresentar um projeto de lei que modifica as disposições do acordo e põe em risco a obtenção de um acordo de livre comércio em um momento em que o período de transição pós-Brexit termina no final do ano.
Esta estratégia, que viola o direito internacional ao revogar partes de um tratado em vigor desde que o Reino Unido deixou a União Europeia em 31 de janeiro, irritou alguns parlamentares conservadores, desencadeando uma rebelião.
A situação é, portanto, radicalmente diferente da do ano passado, quando o polêmico político de cabelos loiros acabava de ser eleito líder do Partido Conservador, e que pouco depois obteve uma grande vitória nas eleições legislativas de dezembro.
Johnson tem uma grande maioria parlamentar, mas entre 40 e 60 conservadores podem se rebelar na próxima semana e se recusar a renovar os poderes excepcionais concedidos ao governo para gerenciar a pandemia sem serem responsabilizados.
"Dogmático"
Agora, até a imprensa conservadora, que costuma ser favorável a Johnson, o censura por suas últimas decisões.
O primeiro-ministro preside "a desordem, fracasso, rebelião, turbulência e confusão", afirmou o jornal Spectator, do qual o agora primeiro-ministro e ex-jornalista havia sido editor-chefe.
Alguns conservadores também expressaram preocupação com os possíveis efeitos do novo coronavírus - do qual Johnson ficou muito doente em abril - sobre sua capacidade de governar.
"Seja qual for a causa, ela se tornou dogmática e se opõe ao debate", afirmou o Daily Mail.
"Ele não está mais em condições de ser primeiro-ministro e deve renunciar assim que o Brexit terminar", escreveu nas páginas do Spectator Toby Young, antes grande apoiador de Johnson.
Na opinião de Tim Bale, um cientista político da Queen Mary University, se os conservadores colocaram Johnson no comando, não foi porque pensaram que ele seria um "bom primeiro-ministro".
Mas "porque estavam desesperados para ganhar as eleições", ressaltou o especialista à agência de notícias AFP. E agora eles têm "a esperança de que apareça alguém digno do cargo", acrescenta.
"Não está à altura" -Uma figura pode ser a do jovem ministro das Finanças, Rishi Sunak, cuja popularidade crescente ofusca Johnson, graças a suas políticas engenhosas e generosas para salvar a economia da pandemia.
"Fala-se de Sunak como um potencial primeiro-ministro", afirmou o jornal conservador Daily Telegraph, embora tenha alertado que Sunak pode enfrentar um golpe quando tiver de explicar como vai pagar seus subsídios e como tem que aumentar os impostos.
Johnson também lida com a popularidade crescente do novo líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, eleito em abril e cuja energia e oratória já lhe deram mais do que um tempo difícil no Parlamento.
Ultimamente, alguns comentaristas consideram Johnson abatido e o culpam pela lenta resposta frente a covid-19.
Mas, na opinião de Bale, "está mais ligado ao fato de que ele está em uma posição que parece não estar à altura".
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