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Maioria de presos britânicos na Síria são vítimas de tráfico de pessoas, segundo ONG

Membro do Estado Islâmico em Raqqa, na Síria - Reuters
Membro do Estado Islâmico em Raqqa, na Síria Imagem: Reuters

30/04/2021 15h12

Londres, 30 Abr 2021 (AFP) - Quase dois terços das mulheres e crianças britânicas detidas em campos no nordeste da Síria são vítimas de tráfico de pessoas, informou a ONG Reprieve, que denunciou o "abandono" por parte de Londres nesta sexta-feira (30).

As mulheres, algumas que tinham apenas 12 anos quando foram levadas para a Síria, foram vítimas do grupo extremista Estado Islâmico (EI) e submetidas a diversas formas de exploração, incluindo exploração sexual, revela a investigação desta associação de defesa dos direitos humanos com sede no Reino Unido.

A ONG estima que 25 adultos e 34 crianças britânicas permanecem na região. Pelo menos 63% deles são vítimas de tráfico de pessoas, trazidos quando crianças para a Síria, forçados a ir para o local, ou detidos e deslocados internamente contra sua vontade, explica a Reprieve.

Em um relatório de 70 páginas, a organização acusou o governo de Boris Johnson de "abandoná-los sistematicamente", privando-os da cidadania britânica, recusando-se a repatriar famílias e deixando de fornecer-lhes assistência consular.

Um caso em particular chamou atenção da mídia, o de Shamima Begum, que partiu para a Síria aos 15 anos, onde se casou com um extremista holandês mais velho.

Agora ela tem 19 anos e está presa em um campo, teve sua nacionalidade retirada e a justiça britânica nega seu retorno ao país.

Siobhán Mullally, o relatora especial da ONU para essas questões, escreve em um prefácio do relatório que o Reino Unido está falhando em honrar seus próprios compromissos.

"Existem agora lacunas de proteção urgentes em relação aos cidadãos britânicos, incluindo crianças, mantidos em acampamentos no nordeste da Síria, muitos dos quais são vítimas ou potenciais vítimas de tráfico de seres humanos", disse.

O relatório da ONG é baseado em pesquisas realizadas na região desde 2017, incluindo entrevistas com mulheres presas e suas famílias.

A Reprieve instou o governo de Johnson a agir para cumprir com suas "obrigações legais" de proteger as vítimas do tráfico de pessoas.

Em resposta, o Executivo afirmou que os membros ou apoiadores do EI deveriam ser levados à justiça na jurisdição mais "apropriada".

"Nossa prioridade é manter o Reino Unido seguro", anunciou uma porta-voz do governo.