Topo

Esse conteúdo é antigo

Quem é a ex-estrela da TV que quer tirar Netanyahu do poder em Israel

Liberal, laico e insultado pelos judeus ortodoxos, Lapid conseguiu se posicionar no centro em Israel - Debbie Hill /Pool via Reuters
Liberal, laico e insultado pelos judeus ortodoxos, Lapid conseguiu se posicionar no centro em Israel Imagem: Debbie Hill /Pool via Reuters

Em Jerusalém (Israel)

31/05/2021 12h02Atualizada em 31/05/2021 12h42

O centrista Yair Lapid, ex-estrela da televisão israelense, ganhou credibilidade desde que entrou para a política, a ponto de virar o principal rival do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e estar prestes a afastá-lo do poder.

Quando em 2012 este jornalista abandonou a televisão para lançar o partido Yesh Atid ("Há um Futuro"), críticos o acusaram de usar a "imagem de galã de cinema" que possuía para seduzir a classe média.

Quase dez anos depois, Lapid continua de pé e assumiu as rédeas da oposição, que no domingo obteve o apoio do líder da direita radical, Naftali Bennett, visando a formação de um novo governo.

Com este apoio, o Lapid está perto da meta que tanto almejava: expulsar, do cargo, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro que ficou mais tempo como premiê na história de Israel e é acusado de corrupção em uma série de casos.

Durante as eleições legislativas de março de 2020, Lapid integrou o Yesh Atid à coalizão centrista "Azul-Branco" do general Benny Gantz.

Mas quando Gantz chegou a um acordo para formar um governo com "Bibi", apelido de Netanyahu, Lapid fez as malas.

"Eu disse: 'já trabalhei com Netanyahu (...), ele não deixará que você coloque as mãos no volante'", contou, há alguns meses, Lapid à AFP.

"Gantz me disse: 'confiamos nele, ele mudou'. E eu respondi: 'o homem tem 71 anos, não vai mudar'. E, infelizmente para o país, eu tinha razão", acrescentou Lapid, ministro das Finanças durante 20 meses (2013-2014) no governo de Netanyahu.

Nas legislativas de 23 de março, o partido centrista do Lapid alcançou a segunda posição, com 17 deputados, atrás do Likud (direita) de Netanyahu.

Imprensa e romance policial

Nascido em novembro de 1963 em Tel Aviv, Lapid é filho do falecido jornalista Tommy Lapid, ex-ministro da Justiça de Israel

A mãe dele, a escritora Shulamit Lapid, é uma das mestres dos romances policiais israelenses, com uma série de obras cuja protagonista é uma jornalista.

O jornalismo impregnou a juventude de Lapid, que assinou suas primeiras matérias para o jornal Maariv, antes de passar ao Yedioth Aharonot, o mais vendido do país, o que deu a ele uma grande notoriedade.

Paralelamente, Lapid continuou suas atividades: lutou boxe, praticou as artes marciais, escreveu romances policiais e séries de televisão, compôs e interpretou canções e até atuou no cinema.

Mas foi na televisão — nos anos 2000 se tornou o apresentador de talk shows mais seguido do país — onde se impôs como a encarnação do israelense comum, fazendo sempre a mesma pergunta aos seus convidados: "O que é ser israelense, na sua opinião?"

Liberal, laico e insultado pelos judeus ortodoxos — aliados-chave de Netanyahu —, Lapid conseguiu se posicionar no centro.

"Humildade"

"Ele se abstém de se vangloriar (...) e é o mais 'não-candidato' de todos os candidatos ao cargo de primeiro-ministro", afirmou antes das eleições de março o jornalista Yuval Karni no Yediot Aharonot, destacando que os israelenses "apreciam" a sua humildade.

Quando milhares de israelenses protestavam contra Netanyahu semanalmente por causa das acusações de corrupção, Lapid mantinha a discrição.

"Tinha a sensação de que não conseguiria me manifestar como líder da oposição em frente à residência do primeiro-ministro", disse.

Dizia que não buscava ser primeiro-ministro e sim aliar-se a outros partidos para expulsar o "rei Netanyahu" de seu trono e "romper barreiras que dividem a sociedade israelense".

Recentemente, o centrista desejou "um governo que diga: não nos odiamos".

Com Bennett, representante de uma direita radical oposta em muitos pontos às suas visões centristas, forma uma aliança que não é natural, mas guiada pelo mesmo objetivo de mudança no comando do país.