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Buscando rendas ilícitas, Talibã investiga ex-membros do governo afegão

Bandeira do Talibã em frente ao aeroporto de Cabul, no Afeganistão; grupo derrubou o antigo governo de Ghani - Karim Sahib/AFP
Bandeira do Talibã em frente ao aeroporto de Cabul, no Afeganistão; grupo derrubou o antigo governo de Ghani Imagem: Karim Sahib/AFP

Em Cabul (Afeganistão)

14/09/2021 11h06Atualizada em 14/09/2021 11h10

O Talibã está investigando as contas bancárias de ex-funcionários de alto escalão do governo afegão derrubado pelo grupo, em busca de eventuais rendas ilícitas, disseram hoje dois diretores do setor responsável pelas apurações.

Esta investigação pode levar ao congelamento de bens e contas de ex-funcionários, ministros e cargos eletivos, explicou à AFP um diretor do Banco Afegão, o Banco Central do país, que não quis se identificar.

Um funcionário de um banco privado confirmou que uma equipe de "auditoria" dos talibãs se apresentou para examinar as contas de alguns ex-funcionários do governo deposto em 15 de agosto. Foi nesta data que os rebeldes tomaram o controle da capital do país, Cabul.

Durante o governo do então presidente Ashraf Ghani, a corrupção foi endêmica e generalizada. Milhões de dólares recebidos pelo país em ajuda estrangeira teriam sido desviados.

O próprio Ghani é acusado de levar milhões de dólares com ele quando fugiu para Abu Dhabi. O ex-presidente nega.

Um vídeo postado nas redes sociais por várias contas dos talibãs mostra milhões de dólares em dinheiro em espécie e barras de ouro que teriam sido encontrados na residência do ex-vice-presidente Amrullah Saleh, em Panshir.

Na gravação, da qual a AFP não conseguiu verificar a autenticidade com fontes independentes, os talibãs aparecem sentados no chão, contando dinheiro e ouro. Tudo isso teria sido encontrado dentro de malas.

Um deles relata ter encontrado US$ 100 mil (R$ 520 mil) um dia depois de os talibãs assumirem o controle do Vale do Panshir no início de setembro e, um pouco mais tarde, US$ 6,2 milhões (R$ 32,4 milhões) e 18 barras de ouro.

A investigação do novo regime acontece em um momento de grande escassez de liquidez da economia nacional. Para evitar o colapso do sistema bancário, por exemplo, cada afegão agora pode sacar apenas o equivalente a R$ 1 mil por semana.

O Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional) suspenderam as ajudas ao país, e os Estados Unidos congelaram as reservas do Banco Central afegão em Washington.

No total, o Afeganistão estaria sem acesso a um montante de cerca de US$ 9 bilhões (R$ 47 bilhões) em ajudas, empréstimos e ativo, tuitou Ajmal Ahmady, ex-presidente interino do Banco Central afegão, na semana passada.