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'Sou inocente', diz à Justiça alemão de 100 anos acusado de crimes nazistas

08.out.21 - Josef Schutz, de 100 anos, ex-guarda de um campo de concentração nazista na década de 1940, está sendo julgado na Alemanha - Tobias Schwarz/AFP
08.out.21 - Josef Schutz, de 100 anos, ex-guarda de um campo de concentração nazista na década de 1940, está sendo julgado na Alemanha Imagem: Tobias Schwarz/AFP

Da AFP

08/10/2021 12h58Atualizada em 08/10/2021 13h58

O alemão Josef Schutz, de 100 anos, ex-guarda do campo de concentração nazista de Sachsenhausen na década de 1940 que está sendo julgado por seus supostos crimes, declarou hoje, diante da corte, que é "inocente".

"Não sei nada a esse respeito", disse Schutz, que esta semana se tornou o réu mais velho a ser julgado por supostos crimes cometidos durante o nazismo.

Ao ser questionado sobre seu trabalho no campo de concentração de Sachsenhausen, perto de Berlim, durante a Segunda Guerra Mundial, afirmou ser "inocente".

"Tudo está em frangalhos na minha cabeça", disse Schutz, que lamentou estar "sozinho" no banco dos réus do tribunal de Brandenburg an der Havel, no leste da Alemanha, onde deve comparecer até o início de janeiro.

Suas declarações foram rapidamente interrompidas por seu advogado, que no dia anterior havia explicado que o réu não falaria sobre o período da Alemanha nazista.

"Tínhamos concordado com a defesa sobre esse procedimento", protestou o advogado.

Schutz, um ex-cabo da divisão "Totenkopf" das SS, é acusado de "cumplicidade na morte" de 3.518 prisioneiros do campo de concentração de Sachsenhausen, entre 1942 e 1945.

Esta segunda audiência foi dedicada à sua vida antes e depois da Segunda Guerra Mundial.

- Juventude em uma fazenda -Tendo chegado sozinho ao tribunal, caminhando com ajuda de um andador, mas com passo relativamente seguro, o réu falou com precisão sobre seu passado, mas sem evocar suas atividades no campo nazista.

Especificamente, ele se lembrou de seu trabalho quando adolescente em uma fazenda da família, na Lituânia, com seus sete irmãos e irmãs e seu subsequente recrutamento para o Exército, em 1938.

Depois da guerra, ele foi transferido para um campo de prisioneiros na Rússia e, depois, estabeleceu-se na Alemanha, em Brandemburgo, região próxima a Berlim.

Trabalhou como agricultor e como chaveiro.

Com cabelos brancos, óculos e estatura mediana, o acusado relembrou os aniversários comemorados junto com filhas e netos e a admiração que sua esposa sentia por ele.

"Ela sempre me dizia: 'Não há outro homem como você no mundo'", relatou ele.

No entanto, gerou um certo espanto na sala quando disse que "não aprendeu a falar alemão até (seu) retorno da Rússia", em 1947.

Por sua vez, Christoffel Heijer, de 84 anos e que compareceu como testemunha por ter perdido seu pai no campo, apontou o dedo para o acusado e disse, emocionado: "posso entender que, movido pelo medo ou por represálias, você não desertou. Mas como pôde dormir em paz por tanto tempo?".

O julgamento é realizado em 20 audiências de duas horas, em função da idade do acusado.

Schutz tinha 21 anos quando iniciou suas funções no campo de concentração. Ele é suspeito de ter atirado em prisioneiros soviéticos, "de ajudar e ser cúmplice em assassinatos sistemáticos" com gás venenoso Zyklon B e de "deter prisioneiros em condições hostis".

Sobreviventes entre as partes civis

Desde que foi inaugurado, em 1936, até sua libertação por parte dos soviéticos, em 22 de abril de 1945, cerca de 200 mil prisioneiros passaram pelo campo de Sachsenhausen, principalmente opositores políticos, judeus e homossexuais.

Dezenas de milhares deles morreram de exaustão, devido ao trabalho forçado e às cruéis condições de detenção.

Vários sobreviventes de Sachsenhausen se apresentaram como parte civil no julgamento.

Alguns não esconderam sua decepção nesta sexta-feira com o silêncio do réu.

"Finge que não sabe de nada, apesar de se lembrar perfeitamente de tudo e com detalhes!", declarou indignado Anoine Grumbach, um francês de 79 anos, cujo pai participou da resistência e foi assassinado em Sachsenhausen.

"Não está caduco! É pura manipulação do advogado, que optou por essa estratégia do silêncio", acrescentou no fim da audiência.

Depois de um passado marcado por pouca pressão judicial sobre os autores de crimes nazistas, a Alemanha julgou e condenou quatro ex-integrantes da SS nos últimos dez anos, estendendo aos guardas e a outros executores de ordens nazistas a acusação de cumplicidade por assassinato.

Nos últimos anos, quatro ex-oficiais das SS foram condenados por essas acusações.