Líder da ex-guerrilha Farc retorna à Colômbia após breve detenção no México
O ex-líder e negociador de paz da antiga guerrilha Farc Rodrigo Granda retornou à Colômbia hoje, após ser mantido detido pela Interpol por cerca de oito horas, no México, devido a um pedido do Paraguai por sequestro e assassinato.
Conhecido como ministro das Relações Exteriores das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) na época do conflito, Granda chegou ao aeroporto internacional de Bogotá e agradeceu ao México e à comunidade internacional por "darem-lhe todas as chances" de retornar ao seu país.
"Estamos dando a cara. Aqui estou", acrescentou o ex-guerrilheiro, hoje com 72 anos.
Em suas primeiras declarações, não informou se foi deportado. Negou ter estado detido, apesar da afirmação neste sentido, ontem, por parte dos Comunes, partido que emergiu do pacto de paz de 2016, e pelo governo colombiano.
Fontes do governo federal mexicano confirmaram a prisão de Granda à AFP na terça-feira, sem oferecer mais detalhes.
Rodrigo Londoño, presidente do Comunas que viajou com o ex-guerrilheiro, garantiu nesta quarta que seu colega esteve "isolado" e foi mantido incomunicável por "em torno de sete ou oito horas" antes de decidir por seu "retorno voluntário" à Colômbia.
Em 2008, um juiz paraguaio havia solicitado sua captura por suposta ligação com o sequestro e posterior assassinato da filha do ex-presidente Raúl Cubas em 2005.
Segundo a investigação, o grupo armado paraguaio que a sequestrou recebeu instruções dos então rebeldes colombianos por intermédio de Granda.
Os líderes da guerrilha colombiana desmobilizada respondem em liberdade na Justiça Especial de Paz (JEP) por crimes como sequestro e recrutamento de menores. Ninguém foi condenado até o momento.
Os ex-guerrilheiros poderão escapar da prisão se confessarem seus crimes e indenizarem as vítimas. Caso contrário, enfrentarão penas de até 20 anos de reclusão.
"Retorno voluntário"
Hoje, Granda insistiu em que deixou a Colômbia com autorização do JEP para participar, no México, de um evento organizado por um partido de esquerda.
Ao chegar ao aeroporto daquele país, porém, foi notificado de que um "mandado de prisão adormecido da Interpol" havia sido acionado.
Granda disse ter sido uma manobra de "funcionários de alto escalão do governo colombiano" que não concordam com o processo de paz.
Ontem, o ministro da Defesa da Colômbia, Diego Molano, comentou que a detenção do ex-negociador se deu a pedido do Paraguai à Interpol.
Granda, que em 2005 foi preso na Venezuela em uma operação secreta e posteriormente transferido para a Colômbia quando atuava como contato internacional para as Farc, foi um dos negociadores de paz em Havana.
Foi, então, solto, a pedido do governo francês por facilitar a libertação da colombiano-francesa Ingrid Betancourt. Ela ficou sob cárcere das Farc por seis anos, até ser resgatada pelos militares colombianos em 2008.
O episódio gerou tensões entre a Venezuela, então governada pelo esquerdista Hugo Chávez, e a Colômbia, cujo presidente era o direitista Álvaro Uribe.
Granda é o segundo líder da guerrilha desmobilizada a ser capturado após a assinatura da paz.
Seuxis Hernández Solarte, conhecido como "Jesús Santrich", foi preso em 2018 para extradição para os Estados Unidos sob acusações de tráfico de drogas - sempre negadas por ele.
Em 2019, foi libertado por ordem da Suprema Corte e, posteriormente, voltou às armas, junto com o ex-número dois das Farc Iván Márquez.
Segundo versões não confirmadas pelo governo colombiano, Santrich morreu em maio passado, em um confronto armado na Venezuela.
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