Investigadoras de desaparecimentos forçados denunciam espionagem oficial no México
México, 24 Nov 2021 (AFP) - Uma perita independente argentina, uma advogada e uma jornalista mexicanas denunciaram nesta quarta-feira (24) que foram espionadas pela extinta Procuradoria-Geral do México (PGR) quando realizavam trabalhos sobre desaparecimentos forçados.
Mercedes Doretti, da Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF); Ana Lorena Delgadillo, da Fundação para a Justiça; e Marcela Turati, jornalista premiada, denunciaram irregularidades nos expedientes da chacina de 196 pessoas, cujos corpos foram encontrados em covas clandestinas no município de San Fernando Tamaulipas em 2011.
Em maio passado, a justiça revelou trechos de uma investigação dirigida a princípio contra criminosos, segundo a qual a PGR obteve informação das três profissionais como mensagens, telefonemas e pontos de geolocalização entre 2015 e 2016. Este inquérito continua em aberto.
A PGR, substituída pela Promotoria Geral desde 2018, fundamentou estes seguimentos "em uma investigação de crime organizado e sequestro", disse em coletiva de imprensa conjunta Delgadillo, advogada de familiares das pessoas encontradas nas tumbas, entre as quais se encontravam centro-americanos.
"É claramente uma violação da liberdade de imprensa, do direito à representação legal e do direito a uma investigação forense independente", denunciou Doretti.
Para Marcela Turati, também espionada por autoridades mexicanas com o software Pegasus, as investigações das covas a levaram a concluir que "há um crime organizado dentro do governo", onde existe "um emaranhado de instituições que operam a impunidade".
"Isto já não é apenas Pegasus, é todo o aparato (oficial) para tentar assediar judicialmente, para tentar censurar", acrescentou.
Turati e outros 24 jornalistas radicados no México apareceram em uma lista de 15.000 números registrados no malware comprado pelo governo do presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018) da empresa israelense NSO.
O presidente de esquerda Andrés Manuel López Obrador assegura que o programa deixou de ser usado em seu governo, iniciado em dezembro 2018.
Até o momento, não há condenados pela chacina de San Fernando, onde em 2010 foram assassinados 72 migrantes centro-americanos e sul-americanos.
O México vive uma onda de violência desde 2006, quando o combate ao narcotráfico foi militarizado, resultando em 300.000 homicídios e mais de 94.000 desparecidos, atribuídos principalmente aos cartéis das drogas e outras quadrilhas do crime organizado.
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