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No Reino Unido, Johnson vê cargo de premiê sob risco após derrota eleitoral

Partido Conservador perdeu eleição em região que controlava havia quase 200 anos, enviando sinal a Londres - Leon Neal - WPA Pool/Getty Images
Partido Conservador perdeu eleição em região que controlava havia quase 200 anos, enviando sinal a Londres Imagem: Leon Neal - WPA Pool/Getty Images

Em Londres (Reino Unido)

17/12/2021 09h04Atualizada em 17/12/2021 09h12

Questionado pela própria bancada no Parlamento, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, está em uma posição difícil após o revés eleitoral sofrido pelo partido dele e de vários escândalos que deixam a liderança dele em dúvida.

Dois anos depois da vitória histórica com a promessa de retirar o Reino Unido da UE (União Europeia), o fim de ano virou um pesadelo para o líder conservador.

Os britânicos enfrentam um período de Natal marcado pelo aumento dos contágios de covid-19, com uma inflação galopante e vários escândalos que afetam o chefe de Governo.

Ontem, o Partido Conservador sofreu uma dura derrota em uma eleição parcial na circunscrição rural de North Shropshire, que visou eleger o novo representante da província no Parlamento britânico.

Sempre controlada pelos conservadores, a circunscrição passou para o Partido Liberal-Democrata, que recebeu 47% dos votos.

Helen Morgan, a candidata vencedora, afirmou que os eleitores enviaram uma mensagem "alta e clara" a Johnson de que "o jogo acabou". "Seu governo, dirigido pelas mentiras e fanfarronices, terá que prestar contas", disse.

O revés eleitoral sofrido pelo líder conservador, de 57 anos, reflete a irritação popular, de acordo com integrantes do próprio Partido Conservador.

"Os eleitores de North Shropshire se cansaram", admitiu o presidente do Partido Conservador, Oliver Dowden. "Penso que queriam enviar uma mensagem, e a entendemos", acrescentou.

O jornal conservador The Daily Telegraph afirma que a derrota do Partido Conservador em uma circunscrição que controlou por quase 200 anos é uma "humilhação" para o primeiro-ministro.

Ao mesmo tempo, o jornal de esquerda The Guardian destaca que "o calamitoso colapso do apoio aos conservadores assustará muitos deputados conservadores e é provável que provoque perguntas sobre o futuro de Johnson".

A possibilidade de uma moção de censura contra o primeiro-ministro, que provocaria a substituição dele à frente do Executivo, não é mais tabu, embora poucos representantes tenham expressado apoio à medida até agora.

Para a eventual sucessão de Johnson, já foram citados os nomes da ministra das Relações Exteriores, Liz Truss, e do ministro das Finanças, Rishi Sunak.

'Pesadelo'

Além do revés eleitoral, o primeiro-ministro foi afetado por uma série de escândalos.

A revelação de que festas foram organizadas em Downing Street durante o inverno (hemisfério norte) de 2020, quando os britânicos deveriam respeitar as fortes restrições para combater a pandemia de covid-19, provocou uma queda expressiva na popularidade dele.

Até o arcebispo de Canterbury, Justin Welby, se mostrou decepcionado e pediu que todos cumpram as normas.

Ontem, os jornais The Guardian e The Independent revelaram que Boris Johnson participou em uma festa em Downing Street, sede do governo, em 15 de maio de 2020, também durante um período de restrições sanitárias.

Olivier Dowden afirmou que a reunião aconteceu em um jardim para limitar os riscos de contágio por covid-19. "Acredito que foi perfeitamente apropriado e razoável", disse.

As revelações, no entanto, colocam em dúvida a liderança de Johnson no momento em que o Reino Unido enfrenta, segundo o governo, um "maremoto" de infecções pela variante ômicron. Desde o início da pandemia, o país registrou quase 147 mil mortes.

Cada vez mais enfraquecido politicamente, Johnson defendeu as novas medidas anticovid na quarta-feira (15) no Parlamento, mas 99 dos 361 deputados do partido dele votaram contra a adoção do passaporte sanitário para permitir a entrada em grandes eventos.

A medida foi aprovada graças ao apoio da oposição trabalhista, mas esta foi a maior rebelião sofrida por Johnson desde a chegada dele ao poder em 2019.

Na história recente do partido, apenas a ex-primeira-ministra Theresa May enfrentou um cenário pior desde a Segunda Guerra Mundial.

Para o Daily Mail, Boris Johnson vive um "pesadelo antes do Natal" e a derrota eleitoral ilustra o "elevado nível de descontentamento público contra o primeiro-ministro".