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Regime talibã acredita que está 'mais perto' do reconhecimento internacional

14.set.2021 - O Ministro das Relações Exteriores do Talibã, Amir Khan Muttaqi - Stringer/Reuters
14.set.2021 - O Ministro das Relações Exteriores do Talibã, Amir Khan Muttaqi Imagem: Stringer/Reuters

Da AFP

03/02/2022 09h16Atualizada em 03/02/2022 10h32

Os talibãs estão "cada vez mais perto" do reconhecimento internacional depois dos contatos diplomáticos na Noruega, assegurou seu ministro das Relações Exteriores em entrevista à AFP, embora tenha afirmado que o novo regime no Afeganistão não atuará "sob pressão de ninguém".

Amir Khan Muttaqi, chefe da diplomacia talibã, também pediu aos Estados Unidos que liberem bilhões em ativos afegãos congelados para lidar com a profunda crise humanitária do país.

Nenhum Estado reconheceu o governo estabelecido pelo Talibã desde que assumiu o poder em agosto, após a retirada das tropas americanas. Mas a legitimidade dos fundamentalistas islâmicos está aumentando gradualmente, de acordo com Muttaqi.

"Quanto ao processo de reconhecimento oficial, estamos nos aproximando desse objetivo", disse à AFP em sua primeira entrevista à imprensa desde as conversas na semana passada na Noruega entre o Talibã e vários diplomatas ocidentais.

"Este é nosso direito, o direito dos afegãos. Continuaremos nossa luta política e nossos esforços até conseguirmos nosso direito", acrescentou.

O Talibã faz propaganda de sua visita a Oslo - sua primeira recepção diplomática em solo europeu desde que voltou ao poder - como um sinal de reconhecimento internacional.

Mas a Noruega, que tem uma longa tradição de mediação internacional, disse que as discussões "não foram uma legitimação ou reconhecimento".

"A comunidade internacional quer interagir conosco", declarou Muttaqi, observando que seu governo está trabalhando ativamente em várias questões. Um sinal, segundo ele, da crescente legitimidade do Talibã.

Soberania

Vários países já têm suas embaixadas em Cabul e Muttaqi espera que mais sejam abertas.

"Esperamos que as embaixadas de alguns países europeus e árabes também sejam abertas", afirmou, embora tenha dito que o novo regime talibã não atuará sob pressão internacional.

O governo segue seu próprio roteiro em termos de direitos humanos, disse o ministro.

Na quarta-feira, as universidades públicas reabriram em algumas províncias do Afeganistão e algumas alunas voltaram às aulas, mas separadas dos homens.

"Nossa atuação no país não é pensada para atender demandas e não decidimos sob pressão de ninguém", ressaltou Muttaqi.

O Talibã afirma ter se modernizado em relação ao governo anterior (1996-2001), quando proibia qualquer tipo de dissidência e violava sistematicamente os direitos humanos.

Desde sua chegada ao poder em agosto, o movimento expulsou as adolescentes de muitas escolas públicas, passou a exigir que as mulheres sejam acompanhadas por um membro da família do sexo masculino em longas viagens e impediu que trabalhem na maioria dos empregos no governo, algo que Muttaqi nega.

Nas ruas de Cabul, como em outras regiões, milhares de funcionárias públicas dizem que perderam seus empregos ou não são pagas há meses.

"Nenhum dos 500 mil funcionários do regime anterior, homens ou mulheres, foi demitido. Todos são pagos", disse o ministro.

Desde o fim da ajuda internacional, que representava cerca de 75% do orçamento do Afeganistão, e o congelamento pelos Estados Unidos de 9,5 bilhões de dólares de ativos do Banco Central Afegão, o país está mergulhado em uma profunda crise humanitária.

A seca agora se junta à fome, que ameaça 23 milhões de afegãos, 55% da população, segundo a ONU.

Muitos países fazem do respeito pelos direitos humanos, especialmente os das mulheres, uma condição prévia para o retorno da ajuda internacional.

Desde que assumiu o poder, o Talibã proibiu a maioria das reuniões da oposição, deteve alguns críticos do regime e agrediu ou prendeu jornalistas.

Uma realidade que Muttaqi também rejeita. "Até agora não prendemos ninguém que seja contra a ideologia (...) deste governo, e não prejudicamos ninguém", concluiu.