A estratégia da guerrilha ucraniana na guerra contra Rússia: desgaste, resistência, assédio
Após 12 dias de combates, uma das únicas certezas do conflito na Ucrânia reside na eficácia da guerrilha ucraniana, que contém consideravelmente o avanço russo.
Preparação
A partir de 2016, a Otan e Kiev iniciaram um programa de formação de forças especiais, que atualmente chegam a 2.000 membros.
Estas forças - ágeis, rápidas, flexíveis - são competentes na mobilização de tropas e na guerrilha urbana, e essenciais junto aos cidadãos transformados em soldados.
"Os ucranianos passaram os últimos anos planejando, treinando e equipando para resistir a ocupação russa", diz Douglas London, ex-oficial de operações clandestinas da CIA, ao site Foreign Affairs.
A estratégia ucraniana "não busca repelir a invasão russa, mas dessangrar Moscou até que a ocupação se torne insustentável", apontou.
"Uma insurreição que tem provisões seguras, amplas reservas de combatentes e santuários além de suas fronteiras pode se manter indefinidamente", acrescentou.
Terreno
O conhecimento do terreno, tanto rural, quanto urbano, representa uma vantagem para a insurreição, assim como as redes locais de combatentes ou informantes, de soldados a avós.
"Mesmo que Davi possa perder sua luta inicial contra Golias, tem irmãos e irmãs que não estão armados unicamente com estilingues", resume Spencer Meredith, professor da National Defense University de Washington.
Os confrontos urbanos certamente vão aumentar. E "isso muda tudo", afirma uma fonte militar francesa, para quem "isso levará os russos ao erro em cada esquina".
Resistência
Desde o início do conflito, a resistência se apoia em métodos simples e baratos: fabricar coquetéis Molotov, explodir pontes importantes para o avanço russo, empilhar sacos de areia e instalar vigas de metal em forma de cruz, etc.
"No lado ucraniano, não há outra opção que aumentar ainda mais a capacidade de guerra de desgaste mediante a formação rápida das tropas territoriais e a introdução de equipes leves, tanto e tão rápido quanto possível", tuitou o coronel francês Michel Goya, observador do conflito.
Assédio
O princípio da guerra de guerrilhas é que faz com que a luta seja longa, cara, esgotadora para o inimigo e inaceitável para sua opinião pública.
"Os soldados-cidadãos aprendem a atacar as vulnerabilidades no avanço das forças inimigas, sabotando sua capacidade de consolidá-lo", descreve Spencer Meredith. "A vitória se torna mais custosa do que o agressor pode suportar".
A confusão entre combatentes e civis facilita o trabalho. "Escondida na planície ou atacando nas sombras, a guerrilha aumenta o número de combatentes e complica sua identificação".
E submeter a Ucrânia tem riscos.
Os serviços secretos russos e a Inteligência militar precisam da "ajuda ucraniana", insiste Meredith, para quem isso "cria oportunidades" para a guerrilha para "manipular, desorientar e socavar a coordenação russa".
Terror e psicologia
O uso político do terror é uma constante na teoria da guerra.
Especialistas destacam que o assédio da guerrilha afetará a moral dos soldados russos e a percepção do conflito pelo povo russo, que poderia duvidar de sua conveniência.
Thomas Pepinsky, especialista em guerra na Brookings Institution, constata que os ucranianos são clementes no tratamento dos soldados capturados. "Se a guerra degenerar em uma insurreição dura, sua tática poderia se tornar mais violenta".
O medo, o desânimo e a desorganização são causas poderosas de ineficácia. "A resistência ucraniana será mais eficaz se os russos se encontrarem em constante estado de alerta, sem dormir, expostos a reações exageradas", assegura o analista.
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