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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Corpo de prefeito ucraniano assassinado enquanto distribuía comida é exumado

12.abr.2022 - Parentes, ladeados por um padre, reagem ao lado do corpo exumado do prefeito de Gostomel, Yuriy Prylypko, que foi enterrado perto de uma igreja na vila de Gostomel, região de Kiev - Fadel Senna/AFP
12.abr.2022 - Parentes, ladeados por um padre, reagem ao lado do corpo exumado do prefeito de Gostomel, Yuriy Prylypko, que foi enterrado perto de uma igreja na vila de Gostomel, região de Kiev Imagem: Fadel Senna/AFP

Em Gostomel

13/04/2022 07h37Atualizada em 13/04/2022 07h37

O funeral do prefeito Gostomel acontece ao contrário. O corpo é retirado da terra, a multidão de luto se dispersa e um padre tenta consolar a viúva com palavras gentis.

Yuri Prylypko "era um grande patriota, um grande homem", afirmou o padre Petro Pavlenko ontem. "Ele era amado".

Em 7 de março, o prefeito de Gostomel foi assassinado quando os soldados russos entraram na pequena cidade ao noroeste de Kiev, onde havia uma base militar.

De acordo com a prefeitura, Prylypko foi assassinado quando distribuía "pão e remédios aos doentes e feridos".

"Morreu pela comunidade, por Gostomel, morreu como um herói", afirmou o município em um comunicado, no qual explicava que, devido às circunstâncias, não era possível organizar o funeral.

O corpo foi exumado ontem pelos investigadores ucranianos, que tentam determinar se a morte de Prylipko é um crime de guerra.

Ao lado do túmulo, sua mulher, Valentyna, começou a chorar ao ver o corpo do marido.

A polícia registrou imagens de cada ferimento no corpo do prefeito.

"400 desaparecidos"

Gostomel, atacada um dia depois do início da invasão russa da Ucrânia, 25 de fevereiro, é um dos pontos estratégicos onde as tropas conseguiram deter a ofensiva rumo à capital Kiev.

Desde que a Rússia anunciou a retirada de suas forças da região de Kiev (para concentrar-se na ofensiva na região leste), os ucranianos retomaram o controle das cidades chaves na periferia da capital.

Todas foram destruídas pelos combates. As autoridades ucranianas citam "massacres" e acusam Moscou de "crimes de guerra".

Em Bucha, a poucos quilômetros ao sul de Gostomel, as imagens de corpos com trajes civis em uma rua, com as mãos amarradas às costas, deram a volta ao mundo.

O presidente russo Vladimir Putin voltou a repetir na terça-feira que as imagens eram falsas.

Com 17 mil habitantes antes da guerra, Gostomel também sofreu durante os dias de guerra. "O município calcula que 400 pessoas estão desaparecidas", afirmou o procurador regional Andrii Tkatch.

"Tentamos determinar quem matou os matou. É possível que não encontremos todos os corpos".

O procurador considera difícil determinar a causa da morte do prefeito de Gostomel. "De acordo com as primeiras informações, ele morreu sem motivo particular, ao lado de seu motorista", disse Tkatch, que acompanhou a exumação com um colete que tinha a frase: "Procurador para crimes de guerra".

Dois enterros

No mesmo dia foram exumados outros corpos no âmbito da investigação, incluindo o de Oleksandr Karpenko, enterrado em um jardim.

Os corpos das vítimas foram levados para uma caminhonete refrigerada, a 5,7º C, para aguardar a autópsia. O veículo tinha entre 30 e 40 cadáveres.

"Nunca fiz isto em minha vida, mas nossos cidadãos são assassinados e temos que enterrá-los da maneira correta", afirma Igor Karpichen, ao carregar um corpo.

"Não tenho palavras para descrever o que sinto", acrescenta.

Mas, depois de fechar as portas do veículo como quem encerra um capítulo sombrio da história da cidade, Karpichen afirma: "Agora vivemos em paz".