Macron acusa Le Pen de 'depender' da Rússia em único debate antes do 2º turno na França
O presidente centrista Emmanuel Macron acusou, nesta quarta-feira (20), a sua rival na eleição presidencial, a candidata da extrema-direita Marine Le Pen, de "depender" da Rússia de Vladimir Putin, a quatro dias do segundo turno que decidirá quem comandará a França até 2027.
"Você depende do poder russo e do senhor Putin [...] Você fala de seu banqueiro quando fala da Rússia", disse Macron a sua rival do Reagrupamento Nacional (RN), durante o único debate televisionado entre ambos antes do segundo turno.
Em plena invasão russa da Ucrânia, que trouxe de volta os temores dos franceses sobre o aumento da inflação e a perda de poder aquisitivo, o mandatário busca apresentar Le Pen como complacente com Moscou e alertar para sua política exterior.
"Isto não é certo e é bastante desonesto", respondeu sua rival. Em 2014, seu partido contraiu um empréstimo de 9 milhões de euros - que ainda está sendo pago - de um banco russo, porque nenhum banco francês quis concedê-lo, alegou.
Na política externa, Le Pen propõe abandonar o comando integrado da Otan, que estabelece a estratégia militar da aliança, e sua eleição representaria outro revés para a União Europeia (UE) após a reeleição do húngaro Viktor Orban.
"Vivemos um momento muito grave [...] O papel da França e da Europa é apoiar a Ucrânia", disse Macron, para quem "uma Europa forte [...] com potências fortes como a França" pode pesar na cena internacional.
Horas antes do debate, tanto o opositor russo Alexei Navalny, que está preso em seu país, como o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, criticaram a relação entre Le Pen e Putin. O ucraniano exigiu que Le Pen admitisse que "se equivocou".
Para não deixar dúvidas, a herdeira da Frente Nacional (FN), que garantiu não desejar sair da União Europeia, reiterou que a "agressão contra o povo ucraniano é inadmissível" e disse apoiar "uma Ucrânia livre", independente dos Estados Unidos, da UE e da Rússia.
Período difícil
A eleição presidencial na França repete o duelo final de 2017, mas o país não é o mesmo. Uma série de protestos sociais, como os "coletes amarelos", abalou o mandato de Macron, uma pandemia confinou milhões de pessoas e a guerra retornou aos confins do Leste Europeu.
"Há cinco anos, tenho visto o povo da França sofrer [...], preocupar-se com o futuro. Outra escolha é possível", disse Le Pen no início do debate, apresentando-se como a presidente da "liberdade", do "poder aquisitivo" e da "fraternidade nacional".
Macron, por sua vez, destacou o "período difícil" que a França atravessou durante o seu mandato e expressou seu desejo de continuar à frente do país para fazer com que a França seja "mais forte e independente", para "melhorar a vida cotidiana" e avançar na transição ecológica.
Embora Macron lidere a disputa com 12 pontos de vantagem, de acordo com a última média de pesquisas Ipsos/Sopra Steria, apenas 69% dos franceses afirmam ter certeza de que votarão, incluindo cerca de 6 em cada 10 eleitores do esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que ambos os candidatos buscam atrair e mobilizar.
Nesse sentido, o debate se apresenta como um momento-chave, já que essa parte do eleitorado o vê "com a esperança" de "confirmar uma eleição que não é totalmente garantida", ou que os ajude a tomar, finalmente uma decisão, opina Emmanuel Rivière, cientista político da consultoria Kantar, em entrevista à rádio RFI.
Mas também mostra o desencantamento reinante de uma parte da população obrigada a escolher entre o "perigo" da extrema-direita e um atual presidente pouco popular.
'Autoritários demais'
Ao contrário de 2017, quando com 66,1% dos votos foi proclamado presidente pela primeira vez, Macron deve agora defender sua gestão, marcada por crises e os protestos contra suas políticas das classes populares.
O 'leitmotiv' do seu programa é recuperar o impulso reformista e liberal que as crises o obrigaram a suspender, como o aumento da idade de aposentadoria de 62 para 65 anos. Para atrair os eleitores de esquerda, disse estar disposto a alterar para 64 anos.
Le Pen aproveitou essa proposta impopular e a preocupação dos franceses com o aumento da inflação para reforçar a imagem de Macron como "presidente dos ricos".
Para manter o sistema de pensões, "só existe uma maneira de financiá-lo, que é trabalhar mais, progressivamente", argumentou o chefe de Estado. É "uma injustiça absolutamente insuportável", respondeu sua rival.
De acordo com as pesquisas Ipsos/Sopra Steria, Le Pen é considerada como a que melhor entende os problemas do povo, enquanto Macron tem uma melhor imagem internacional. Ambos, no entanto, são considerados "autoritários demais" para quase metade dos franceses.
No domingo à noite será conhecido o nome de quem vai presidir a França nos próximos cinco anos e começará a campanha legislativa de junho, que definirá com que maioria parlamentar governará, algo incerto em um tabuleiro político em recomposição.
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