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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Infiltração de espiões e perda de região estão no foco de demissões na Ucrânia

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia - REUTERS/Valentyn Ogirenko
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia Imagem: REUTERS/Valentyn Ogirenko

19/07/2022 16h32

A infiltração de espiões russos na Ucrânia e a perda de uma região estratégica no sul são os principais motivos para o presidente Volodimir Zelensky destituir o responsável do serviço de segurança e a procuradora-geral, mudanças que poderiam fortalecer seu controle do Estado.

Em sua mensagem à nação no domingo, Zelensky anunciou as saídas do chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, na sigla em ucraniano), Ivan Bakanov (amigo de infância do presidente) e da procuradora-geral Iryna Venediktova, aos quais reprovou pela falta de resultados na luta contra a espionagem e por colaborar com Moscou.

Estão em andamento mais de 650 investigações por "alta traição" e "colaboração" com Moscou contra funcionários do Ministério Público e das forças de segurança ucranianas. O que faz com que "preguntas muito sérias" recaiam sobre o trabalho desses dois dirigentes, destacou Zelensky.

A pedido do presidente, o parlamento votou e aprovou nesta terça-feira (19) a destituição de Bakanov e Venediktova.

"Todo o mundo esperava" deles "resultados mais tangíveis" na "busca de colaboradores e traidores" infiltrados nessas estruturas, detalhou na segunda-feira um responsável da administração presidencial, Andrii Smyrnov.

'Erro gravíssimo'

Há tempos, "o presidente e seu gabinete não estavam contentes com o trabalho de Bakanov e Venediktova", e a invasão russa da Ucrânia aumentou a tensão, explicou à AFP o cientista político ucraniano Volodimir Fesenko.

Ao menos três responsáveis do alto escalão do SBU foram acusados de alta traição em benefício de Moscou nestes últimos meses. Um deles, Oleg Kulinich, destituído em março e detido no domingo, estava alocado na região de Kherson.

Esta região estratégica, situada muito perto da península ucraniana da Crimeia (que Moscou anexou em 2014), foi rapidamente ocupada pelas tropas russas no início da invasão, o que rendeu críticas ao governo pela falta de preparação defensiva.

"Este homem, que deveria ajudar Bakanov, colaborou com os serviços especiais russos. Foi um erro gravíssimo e, na minha opinião, a gota d'água para Zelensky", explicou Fesenko.

Zelensky também destituiu, no fim de março, o responsável do SBU em Kherson, Serhiy Kryvoruchko. Além disso, suspeita-se que outro integrante do alto escalão regional entregou mapas confidenciais sobre campos de minas antipessoais aos russos, segundo o titular do conselho regional.

O presidente Zelensky anunciou na segunda-feira uma "revisão de dirigentes" no SBU, e serão despedidos um dos adjuntos de Bakanov e 28 agentes por "resultados pouco satisfatórios".

Por sua vez, Iryna Venediktova era responsável pelas investigações sobre as atrocidades cometidas pelas tropas russas, sobretudo na cidade de Bucha, a noroeste de Kiev, que se transformou em um exemplo dos "crimes de guerra" na Ucrânia.

O influente veículo de comunicação Ukrainska Pravda afirma que Venediktova entrou na mira da presidência pela midiatização excessiva de suas ações e, sobretudo, pelos rápidos processos judiciais contra soldados russos, que dificultaram as trocas de prisioneiros, uma prioridade para Zelensky.

Substitutos gerenciáveis

No entanto, para muitos analistas ucranianos, as destituições na cúpula do Estado são uma manobra de Zelensky para aumentar o seu controle sobre as forças de segurança, já que seus substitutos são considerados mais gerenciáveis.

Zelensky substituiu a procuradora-geral e o responsável pelo serviço de segurança por seus respectivos vices, Oleksi Symonenko e Vassyl Maliuk, de forma interina.

"Está claro" que esses homens "executarão as ordens políticas" da presidência, assinalou Tetiana Shevchuk, analista da ONG ucraniana Anti-Corruption Action Center (Centro de Ação contra a Corrupção), citada pelo site Forbes Ukraine.