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Para OCDE, agenda verde é o ponto forte da América Latina no cenário mundial

OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OECD em inglês - Getty Images
OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OECD em inglês Imagem: Getty Images

09/11/2022 15h13

A América Latina tem na agenda climática uma cartada para ser um ator de primeira grandeza ao nível mundial e atuar como um "aliado fundamental" da Europa, assegurou durante a COP27, no Egito, Sebastián Nieto, encarregado da América Latina na OCDE.

A região tem a seu favor vários fatores: concentra metade da biodiversidade mundial, produz 33% de sua energia a partir de fontes renováveis - frente a uma média mundial de 13% -, e detém altas reservas de minerais essenciais para a transição ecológica, como o lítio (61%), o cobre (39%) e o níquel (32%).

Além disso, suas emissões de gases de efeito estufa são inferiores às emissões per capta de regiões com níveis de desenvolvimento similares.

"Como a América Latina pode ter um papel na agenda internacional? Para mim, é através da agenda verde" que pode pesar em negociações multilaterais como a COP27, assegurou em Sharm el-Sheikh à AFP Nieto, chefe para a América Latina e Caribe do Centro de Desenvolvimento da OCDE.

Ele destacou que até 2030, o desenvolvimento bem-sucedido da agenda verde poderia criar 10,5% mais empregos líquidos formais em setores como gestão hídrica, alimentação e turismo sustentável, como enumera o último relatório anual sobre a América Latina da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, publicado esta semana.

Um objetivo especialmente necessário em uma região onde 45% das famílias trabalham na economia informal e onde, no fim de 2022, 33,7% da população estará em situação de pobreza - sete pontos a mais do que em 2020.

O potencial do hidrogênio verde

Para Sebastián Nieto, um economista colombiano de 47 anos formado na França, "há um potencial para continuar promovendo maiores fontes de energia renovável na região", em particular o hidrogênio verde, em países como Chile ou Argentina.

O ministro da Economia chileno, Nicolás Grau, fez em setembro uma visita à Europa justamente para atrair investidores interessados no hidrogênio verde, que se obtém a partir de fontes renováveis.

As últimas regulamentações europeias condicionam vários setores, como o da alimentação, da construção, têxtil ou matérias-primas - soja, carne bovina, óleo de palma, madeira, coco e café -, cuja produção deve estar isenta de desmatamento, segundo proposta da Comissão Europeia, atualmente em negociação.

Exigências que para Nieto são uma oportunidade para ambas as partes.

"A América Latina é um aliado fundamental para a Europa na agenda verde", assegurou.

Mas esta melhor conexão passa por repensar o modelo de colaboração, que deve implicar muito mais o setor privado dos dois lados do oceano. "É preciso mudar este paradigma tradicional de ajuda aos governos", afirmou Nieto.

Outra urgência para a região é "continuar fazendo mais gastos em pesquisa e desenvolvimento, que continua sendo muito baixo na América Latina", com uma média de 0,7% do PIB, frente a cerca de 2% nos países da OCDE, grupo de países desenvolvidos, que inclui Costa Rica, Colômbia, Chile e México.

O tempo urge, pois se os prognósticos das Nações Unidas se cumprirem, um aquecimento do planeta em torno de 2,5 ºC em relação à era pré-industrial custaria à América Latina entre 1,5% e 5% de seu PIB até 2050.

Sebastián Nieto explicou que neste cenário, as populações mais afetadas seriam as que vivem nas zonas remotas e costeiras, especialmente no Caribe, e as populações vulneráveis das cidades.

"Há um efeito assimétrico e aumentaria as desigualdades", afirmou.