Justiça dos EUA liberta cofundador da FTX sob pagamento de fiança
O magnata cofundador da FTX, Sam Bankman-Fried, foi liberado pela Justiça dos Estados Unidos, após pagar US$ 250 milhões de fiança nesta quinta-feira (22), e responderá em liberdade às acusações de fraude criminal pelo colapso espetacular de sua corretora de criptomoedas.
O juiz de Nova York Gabriel Gorenstein tomou a decisão durante a audiência de acusação de Bankman-Fried no tribunal federal de Manhattan, após sua extradição das Bahamas.
Bankman-Fried, que entrou algemado na sala de audiências, permaneceu cabisbaixo enquanto o juiz revisava as oito acusações criminais da denúncia e não apresentou contestação. O empresário fez apenas um breve pronunciamento para aceitar as condições da fiança.
Seus pais, os professores de Direito da Universidade de Stanford, Joseph Bankman e Barbara Fried, permaneceram em silêncio durante os 40 minutos de audiência. Mais tarde, Bankman-Fried foi visto deixando o tribunal carregando uma sacola marrom de papel.
Sob o acordo firmado hoje, o ex-bilionário de 30 anos, que afirmou recentemente que tinha apenas 100 mil dólares no banco, terá que residir na casa de seus pais em Palo Alto, Califórnia, e estará sujeito a monitoramento eletrônico.
A FTX e sua empresa-irmã Alameda Research entraram com pedido de falência no mês passado, dissolvendo um negócio que chegou a ser avaliado pelo mercado em US$ 32 bilhões.
Os promotores alegam que Bankman-Fried enganou os investidores e abusou dos recursos que pertenciam aos clientes da FTX e da Alameda Research.
O avião que trazia Bankman-Fried das Bahamas, onde está sediada a FTX, chegou aos Estados Unidos na noite de quarta-feira, depois que ele renunciou ao seu direito de contestar o pedido de extradição do governo americano.
Gorenstein determinou que Bankman-Fried apresentava risco mínimo de fuga porque não contestou a extradição e não tem condenações anteriores, aceitando recomendação da promotoria.
- Colapso dramático -
Nicolas Roos, promotor-assistente do Distrito Sul de Nova York, assinalou que os supostos esquemas de Bankman-Fried tinham "proporções épicas", e que o governo já possuía evidências "muito fortes" fornecidas por mais de 12 testemunhas que decidiram colaborar com a Justiça e mensagens de texto criptografadas.
Mas Roos recomendou a fiança com condições "altamente restritivas" pelo fato de o réu não possuir histórico criminal e por ele ter aceitado voluntariamente a extradição.
Na semana passada, os promotores federais apresentaram denúncia contra Bankman-Fried com oito acusações criminais, entre elas conspiração, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e violações da lei de financiamento eleitoral.
O empresário "estava orquestrando uma fraude maciça há anos, desviando bilhões de dólares de recursos dos clientes da corretora para seu próprio benefício pessoal e para o crescimento de seu império de criptomoedas", afirmaram os promotores.
Cinco das oito acusações criminais contra Bankman-Fried têm pena máxima de 20 anos de prisão cada uma. Além disso, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, conhecida pela sigla SEC, o acusa de violar leis de segurança.
O comparecimento de Bankman-Fried à Justiça veio depois do anúncio do promotor federal Damian Williams, na quarta-feira, de que duas figuras importantes no caso - a CEO da Alameda Research, Caroline Ellison, e o cofundador da FTX, Gary Wang - se declararam culpados de acusações vinculadas ao colapso da corretora e estavam colaborando com as autoridades.
As acusações tinham "relação com os papéis de ambos na fraude que contribuiu para o colapso da FTX", disse Williams, sem oferecer mais detalhes.
Paralelamente, a SEC e a CFTC - a comissão que regula os mercados de futuros e opções nos EUA - anunciaram ontem que apresentaram ações no âmbito civil contra Ellison e Wang. A CFTC estima que US$ 8 bilhões foram desviados de contas de clientes FTX.
Após iniciar seus negócios em 2019, a FTX registrou um crescimento espetacular para se tornar um dos principais atores no universo das criptomoedas.
Bankman-Fried apareceu em capas de revistas financeiras e de tecnologia, e atraiu enormes investimentos de proeminentes gestores de fundos e de capital de risco.
Mas tudo isso implodiu de forma dramática em novembro, quando uma reportagem revelou que o balanço patrimonial da Alameda foi fortemente construído com base em um token criado pela FTX sem valor independente, e expôs as empresas de Bankman-Fried como sendo perigosamente interligadas.
Bankman-Fried foi detido em seu apartamento de luxo em Nassau, nas Bahamas, em 12 de dezembro, a pedido da Justiça dos Estados Unidos.
Residente permanente das Bahamas, o empresário passou nove dias na prisão, avaliando suas escolhas antes de dizer ao tribunal de Nassau na quarta-feira que não contestaria a extradição.
jmb-pmh/bgs/rpr/am
© Agence France-Presse
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