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Opinião

Direita partidária, organizada e fisiológica é a vencedora da eleição

O PSD de Gilberto Kassab cresceu, o PL de Valdemar Costa Neto cresceu, o PP de Arthur Lira cresceu. O PRTB de Pablo Marçal continua como sempre esteve, politicamente raquítico.

O influencer faz política do "eu sozinho": recebeu 1,7 milhão de votos para prefeito de São Paulo, mas o partido que ele alugou para disputar o pleito teve menos de um décimo disso e não elegeu ninguém na cidade. O candidato a vereador mais votado do PRTB ganhou R$ 30 mil da sigla e 7.000 votos dos eleitores.

A lógica eleitoral de Marçal é a mesma de seus negócios: eu recebo, você dá. E nós? "Nós" não existe, é tudo meu. Ou melhor, dele. Funciona para coaching, não para eleição.

Partidos funcionam. O União Brasil de Milton Leite não lançou candidato majoritário em São Paulo, apoiou a reeleição de Ricardo Nunes. Mesmo assim, o partido do homem forte do governo Nunes foi o segundo que mais elegeu vereadores na cidade - tantos quantos o MDB do prefeito e o PL de Valdemar.

Na Câmara Municipal de São Paulo, o União Brasil só perdeu para o PT, que, por sua vez, abriu mão de lançar candidato, apoiou Guilherme Boulos e, ainda assim, fez mais vereadores que o PSOL.

São os partidos, querido. Ou o repartido. Cargos e verbas distribuídos produzem militância profissional, que produz votos.

Ironicamente, mas não por acaso, Marçal perdeu para o sistema que dizia combater. O sistema partidário organiza e estrutura a política. Cria vínculos fortes e sintoniza interesses comuns. O sistema mostrou-se mais forte do que as redes de *influencers*.

Em São Paulo, MDB, Republicanos e PSD sintonizaram o governador com o prefeito, juntando as duas mais formidáveis máquinas do estado. E ainda tiveram o suporte indispensável de Kassab, criador do partido que mais elegeu prefeitos no país em 2024, desbancando uma hegemonia do MDB que durava quase 50 anos.

O PP de Arthur Lira, presidente da Câmara e senhor das emendas parlamentares ao orçamento da União, elegeu quase 750 prefeitos pelo país (só perdeu para PSD e MDB). Cresceu pela segunda eleição municipal consecutiva e está quase matando saudades dos tempos em que sua precursora, a Arena da ditadura militar, se gabava de ser o maior partido político do ocidente.

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A eleição municipal de 2024 mostrou que política no Brasil (ainda) se faz com organização partidária e dinheiro público. Quanto mais organizado e fisiológico o partido, menor sua dependência de um líder carismático. O PL aproveitou a marca "Bolsonaro", mas cresceu menos por causa dela do que pelo Fundo Partidário, pelo Fundo Eleitoral e pelas emendas parlamentares.

O PL de Valdemar Costa Neto foi o partido que mais cresceu na Câmara paulistana, que elegeu 500 e tantos prefeitos no país e que pode vir a comandar o maior número de capitais (ganhou duas no 1º turno e vai ao 2º turno em outras nove). PL de Valdemar ou de Bolsonaro? Valdemar é quem comanda o caixa bilionário do partido. Valdemar é quem paga o salário de Jair. O PL é dele.

O sistema partidário pode até não eleger os candidatos mais votados, mas elege os que tendem a durar mais tempo no cargo. Se reelegem, elegem os filhos e se perpetuam no poder.

A vereadora mais bem votada em São Paulo foi Ana Carolina Oliveira, mãe da menina Isabela Nardoni, morta pelo pai e pala madrasta em 2008. Não foi a primeira eleita após uma tragédia familiar. Os pais do menino Ives Ota, sequestrado e assassinado em 1997, tentaram carreira na política. A mãe foi deputada federal por dois mandatos, não se reelegeu nas últimas duas eleições. Tentou ser vereadora este ano. Perdeu.

Já os Goulart são exemplo de como o sistema partidário funciona. Estão sempre próximos ao poder, seja ao presidente (Temer), ao prefeito (Nunes) ou ao governador (Tarcísio) da vez. O pai, Antonio, foi vereador paulistano por 18 anos, cinco mandatos consecutivos. O filho, Rodrigo, acaba de ganhar o terceiro como vereador em São Paulo. É o oitavo mandato municipal da família.

Os Marçal passam, o sistema partidário fica. Marçal é como bomba. Só faz barulho, calor e terra arrasada. Não sobra nada. Partidos arrasam a terra também, mas demoram mais no processo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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