Deputados radicais vão ao 2º turno copiando tática de choque de Bolsonaro
Os deputados federais Eder Mauro e Abílio Brunini, ambos do PL, vão disputar o segundo turno em Belém e Cuiabá, respectivamente, após terem seguido o exemplo de outra pessoa que, quando deputado, usou o grotesco e o surreal no Congresso Nacional para chamar a atenção e se promover midiaticamente e eleitoralmente: Jair Bolsonaro.
Em Belém, Mauro teve 31,5% dos votos enquanto Igor Normando (MDB), candidato do governador Helder Barbalho, teve 45% e deve contar com o apoio do prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), que teve quase 10%.
Já em Cuiabá, Brunini teve 39,6%, e Lúdio (PT), 28,3%, deixando para trás Eduardo Botelho (União Brasil), que teve 27,8%.
Ambos são figuras sempre presentes na mídia por criarem confusões em Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), em reuniões ordinárias de comissões regulares e outros encontros transmitidos pela TV ou pela internet. Conseguiram com suas intervenções criar indignação em representantes da esquerda e irritação até entre colegas da direita.
No dia em que a execução da vereadora Marielle Franco completou seis anos, no dia 14 de março, Mauro gritou "Marielle Franco acabou, porra. Não tem porra nenhuma aqui", em uma sessão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara".
Já pré-candidato à Prefeitura de Belém, queria chamar para si a atenção. Da mesma forma, que Bolsonaro capturava os holofotes ao dizer que a deputada Maria do Rosário (PT-RS), hoje no segundo turno da disputa em Porto Alegre, seria tão feia que não mereceria ser estuprada. Ou chamando indígenas de fedorentos em audiências públicas para discutir direitos desses povos.
Uns dos parlamentares da Bancada da Bala, Mauro copia o comportamento do "mito", com xingamentos e ataques agressivos. Admitiu que, como policial, tem várias mortes nas costas. Na CPMI dos Atos Golpistas, apesar de não ter sido membro efetivo, aparecia para atrapalhar a condução dos trabalhos.
Outro que também se tornou figurinha conhecida na CPMI e adotava a mesma tática foi Abílio Brunini. Em uma das sessões, fez um gesto interpretado como supremacista branco, provocando confusão. Em outra, foi acusado de promover transfobia.
Advertido sistematicamente pela presidência da CPMI, ele dava de ombros. O senador Magno Malta (PL-ES), segundo vice-presidente da CPMI, do mesmo campo ideológico do deputado, chegou a repreende-lo por fazer bullying e não deixar um outro parlamentar falar: "Deputado Abilio! Gente, por favor! Eu tenho que gritar, é? Estou na escolinha [do Professor Raimundo]? Por favor, deputado Abilio".
O objetivo também era aparecer na mídia e produzir material para as redes sociais bolsonaristas. Ao longo da campanha, ora ele apareceu em primeiro na disputa por Cuiabá, ora em segundo nas pesquisas de intenção de voto.
Visto como baderneiro por colegas, criou até confusão em sessão da Comissão de Legislação Participativa da Câmara que discutia o ponto de vista palestino diante da crise em Gaza. Acusou os convidados, que defendiam o fim da guerra, de apoiarem o Hamas.
Para uma camada da sociedade que defende o respeito aos direitos humanos, as declarações de Mauro e Brunini merecem ser denunciadas. Contudo, para outra, o que importa é estar evidência, ser famoso, ser conhecido, mesmo que famoso e conhecido por ações questionáveis.
E, uma vez nos holofotes da mídia, o seu discurso acaba conseguindo votos entre aqueles que se conectam aos medos e anseios que ambos promovem.
Tal como aconteceu com Pablo Marçal (PRTB), em São Paulo: falem mal, mas falem de mim. A diferença é que Bolsonaro, Mauro e Brunini ainda operam em uma tática 3G e 4G, enquanto o ex-coach já deixou o 5G para trás.
Isso se coloca como um desafio ao naco racional da sociedade: como criticar as declarações violentas de candidatos, mas não dar a eles o palanque midiático que tanto querem para alçar voos políticos. Enquanto isso, o grotesco e o surreal continuam tendo sucesso. E indo ao segundo turno. E, eventualmente e novamente, vencendo as eleições.