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Relação comercial entre EUA e China enfrenta tempestade em meio a covid e tensão

O presidente estadunidense Joe Biden e o presidente chinês Xi Jinping - Reuters
O presidente estadunidense Joe Biden e o presidente chinês Xi Jinping Imagem: Reuters

30/01/2023 19h05Atualizada em 30/01/2023 19h20

Divórcio ou apenas efeito da covid? Em 2022, a China pode não ter sido o maior parceiro comercial dos Estados Unidos pela segunda vez desde 2008, como resultado de uma tensão de intensidade incomum.

Os dados do comércio exterior de todo o ano passado ainda não são conhecidos, mas os divulgados para novembro pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos confirmam: as importações de produtos da China já não fluem no mesmo ritmo.

É certo que 2022 baterá o recorde de importações da China para os Estados Unidos, mas, nos primeiros 11 meses do ano, os americanos terão importado mais, em valor, da União Europeia do que do gigante asiático, segunda maior economia do mundo. Exceto em 2019, quando a guerra comercial entre os dois países estava em pleno apogeu, isso não acontecia desde 2008.

"Houve um realinhamento da globalização desde 2018", explicou Robert Koopman, professor da American University em Washington e ex-economista-chefe da Organização Mundial do Comércio (OMC).

"As empresas buscam diversificar seus abastecimentos, para evitar a tensão geopolítica sino-americana, os efeitos da pandemia e as perturbações causadas pelos riscos climáticos" em uma área geográfica específica, explicou.

Após dois anos de queda, em 2019 e 2020, sob efeito da guerra comercial entre as duas potências, e após as dificuldades no comércio mundial devido à pandemia, as importações americanas de produtos chineses se reativaram em 2021, mas sem voltar ao nível anterior.

Bandeira da China e dos EUA - ALY SONG - ALY SONG
Bandeira da China e dos EUA
Imagem: ALY SONG

Substituição

Acima de tudo, segundo um estudo do (PIEE) Peterson Institute for International Economics, as importações da China foram retomadas em um ritmo mais lento do que antes da guerra comercial, ao contrário das compras do restante do mundo.

"Definitivamente, houve uma certa substituição de fornecedores", que passaram da China para outros países, como Vietnã e México, ressaltou Mary Lovely, pesquisadora do PIIE, explicando que isso se deve, em parte, aos próprios investidores chineses, que abriram fábricas fora do seu país de origem.

"No México, é diferente", explicou Mary. "Houve algum investimento chinês, porém, mais do que tudo, tratam-se de multinacionais que desejam se aproximar do mercado americano."

Em constante evolução há duas décadas, as exportações vietnamitas também ganharam impulso desde 2018, mais do que dobrando de valor, tornando aquele país asiático um dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos.

As importações de outros países asiáticos também crescem com força: Taiwan, Coreia do Sul e Malásia ganham fatias do mercado nos Estados Unidos.

Desacoplamento?

Seriam esses os primeiros sinais de desacoplamento entre as economias americana e chinesa? O tema divide os especialistas, que ainda carecem de retrospectiva sobre o impacto da política tarifária americana e a crise sanitária nesse intercâmbio.

Ryan Sweet, economista-chefe para os Estados Unidos da Oxford Economics, destacou que os americanos, uma vez levantados os confinamentos, "gastaram muito dinheiro em produtos que costumam ser importados, mas, agora, gastam mais com serviços, repercutindo na demanda de bens e, portanto, nas importações".

A essa opinião se soma, em parte, Emily Benson, pesquisadora do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), com sede em Washington, para quem, "embora a pandemia não tenha terminado, os atores econômicos e governos começam a agir como se fosse o caso, e o comércio volta a níveis normais".

Uma das consequências da "reorganização do comércio mundial" e da "diversificação geográfica é ver que as redes de abastecimento já não começam na China, e sim no Sudeste Asiático ou mais perto dos Estados Unidos", acrescentou Emily. Normas americanas, como a recente Lei de Redução da Inflação (IRA) ou a Lei dos Chips, que pretende retornar aos Estados Unidos parte da produção de semicondutores, "são indicadores claros do desejo do governo de Joe Biden de se desvincular da China", indicou Robert Koopman.

O entrelaçamento das duas economias é tamanho que, no entanto, esse efeito parece difícil de se obter. "A tensão aumenta entre Estados Unidos e China", reconheceu Ryan Sweet. "Mas isso não significa que os Estados Unidos deixarão de importar produtos chineses. Com o tempo, veremos uma diversificação dos fornecimentos, principalmente porque os fabricantes não irão colocar todos os ovos na mesma cesta."