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Israel é alvo de críticas após confrontos na mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém

05/04/2023 06h04

A intervenção da polícia israelense na mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, provocou, nesta quarta-feira (5), uma chuva de críticas internacionais e uma escalada de disparos de foguetes de Gaza e de bombardeios israelenses, em meio às celebrações da Páscoa judaica e do Ramadã muçulmano.

A intervenção da tropa de choque israelense dentro de Al Aqsa terminou com 350 detidos, segundo a polícia, e 37 feridos, de acordo com o balanço do Crescente Vermelho palestino.

Nesta quarta-feira, uma multidão de muçulmanos se reuniu novamente dentro e no entorno da mesquita para a oração noturna do Ramadã. Segundo a polícia israelense, "dezenas de insurgentes, alguns usando máscara, atiraram fogos de artifício e pedras dentro da mesquita".

A polícia impediu que eles se entrincheirassem e os dispersou, permitindo o retorno da calma, afirmou em comunicado. As forças israelenses bloquearam o acesso ao local, constataram os jornalistas da AFP.

Durante a noite, o porta-voz do presidente palestino Mahmoud Abbas, Nabil Abou Roudeina, advertiu que o novo "ataque" contra a mesquita revelava a vontade do governo israelense de "afundar a região na instabilidade".

O movimento islamita Hamas, que governa a Faixa de Gaza, havia denunciado, depois dos primeiros incidentes, um "crime sem precedentes".

- 'Extremistas' -

O templo fica na Esplanada das Mesquitas, o terceiro local mais sagrado do islã, em Jerusalém Oriental, o setor palestino da Cidade Sagrada ocupado e anexado por Israel. A Esplanada está construída sobre o que os judeus chamam de Monte do Templo, o local mais sagrado do judaísmo.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou sentir-se "impactado e consternado" com "a violência e as agressões" das forças israelenses dentro da mesquita, segundo o seu porta-voz, Stéphane Dujarric.

O governo americano também se declarou "extremamente preocupado" e pediu moderação a ambas as partes.

As forças de segurança de Israel entraram durante a noite na mesquita, "quebrando portas e janelas", quando os fiéis estavam no local para rezar, relatou Abdelkarim Ikraiem, um palestino de 74 anos que estava no templo.

Eles levavam "cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo e bombas de fumaça, e agrediram os fiéis", declarou à AFP.

Em um comunicado, a polícia denuncia a ação de "vários jovens criminosos e agitadores mascarados, que entraram com fogos de artifício, pedaços de pau e pedras" na mesquita.

"Os líderes ficaram entrincheirados dentro da mesquita durante várias horas (após a última oração vespertina) para perturbar a ordem pública e profanar a mesquita, enquanto gritavam frases que incitavam o ódio e a violência", acrescenta a nota.

A polícia israelense divulgou um vídeo que mostra explosões do que pareciam ser fogos de artifício dentro do santuário e o que parecem ser pessoas atirando pedras.

Em outro vídeo da polícia, agentes da tropa de choque avançam em direção à mesquita e usam escudos como proteção aos disparos de foguetes.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que as forças de segurança se viram "obrigadas a agir para restabelecer a ordem" frente aos "extremistas".

- Comoção em países muçulmanos -

O ministro de Assuntos Civis palestino, Hussein Al-Sheikh, afirmou que "o nível de brutalidade [da polícia israelense] exige uma ação urgente palestina, árabe e internacional".

A Jordânia, que administra os locais sagrados muçulmanos de Jerusalém, condenou o "ataque" à mesquita e pediu às forças israelenses que se retirem imediatamente do local.

"Desrespeitar a mesquita de Al Aqsa é nossa linha vermelha", advertiu o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, enquanto a Liga Árabe organizou uma reunião extraordinária e alertou contra qualquer "provocação" que possa ferir "os sentimentos dos fiéis".

O Marrocos, que normalizou as suas relações com Israel no final de 2020, condenou "firmemente" a intervenção e apelou ao "respeito pelo estatuto jurídico, religioso e histórico" de Jerusalém e dos lugares sagrados.

Os confrontos em Al-Aqsa provocaram uma troca de hostilidades na Faixa de Gaza, com lançamentos de foguetes do território palestino e bombardeios do lado israelense.

Nesta quarta-feira à noite, outros dois foguetes foram lançados a partir de Gaza.

O Exército israelense indicou que um deles caiu do lado de Gaza e outro, "no setor da barreira fronteiriça" que separa os dois territórios.

O conflito israelense-palestino ficou ainda mais tenso nos últimos meses, após a posse, em dezembro, de um dos governos mais à direita da história de Israel.

Desde janeiro, a violência deixou quase 110 mortos e escalou no fim de semana passado, após uma calma relativa que era observada desde o início do Ramadã, em 23 de março.

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© Agence France-Presse