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Discord, o habitat natural dos renegados on-line, segundo especialistas

Uma representação de documentos militares classificados dos EUA e o logo do Discord - Dado Ruvic/Reuters
Uma representação de documentos militares classificados dos EUA e o logo do Discord Imagem: Dado Ruvic/Reuters

13/04/2023 20h01Atualizada em 14/04/2023 09h27

Talvez não seja por acaso que um lote de documentos confidenciais dos Estados Unidos tenha ido parar em uma sala de bate-papo da rede social Discord, uma plataforma que os especialistas consideram um habitat natural para os renegados on-line.

Jack Texeira, um jovem funcionário da Guarda Nacional Aérea dos Estados Unidos, foi preso nesta quinta-feira (13) no âmbito da investigação sobre o vazamento de material sigiloso, um caso que representa um risco "muito grave" para a segurança nacional segundo o Pentágono.

O jornal Washington Post reportou ontem que o vazamento de documentos secretos sobre a guerra na Ucrânia, entre outros temas, vinha de um usuário da rede Discord que usava o apelido de "OG", um entusiasta das armas que trabalha em uma base militar americana.

A publicação citou membros do grupo Thug Shaker Central para informar que a sala de bate-papo que estaria por trás do vazamento era um destino para cerca de 20 pessoas que compartilhavam um "amor mútuo por armas, equipamento militar e Deus".

Com sede em San Francisco, a Discord foi criada em 2015 principalmente como uma plataforma para que os jogadores on-line interagissem, mas acabou se transformando em uma alternativa para os usuários desencantados com as redes sociais mais tradicionais, como Facebook, Instagram e Twitter.

A Discord permite que as comunidades configurem os chamados "servidores": espaços virtuais onde os usuários podem conversar, compartilhar arquivos de mídia e se conectar com outros usuários com os quais há interesses similares.

"Existe um milhão de microcosmos no mundo das redes sociais que são assim", afirma Jason Davis, professor da Universidade de Syracuse.

Há fóruns similares no Reddit e no Mastodon, a maioria vinculada a passatempos e jogos, mas sempre com um toque de "liberdade" dos censores que alguns acreditam que possuem influência demais no Facebook, Instagram ou Snapchat.

'Para rebeldes e nerds'

A Discord "é o habitat para rebeldes e nerds [que] abraçam esse tipo de sentimento contrário à corrente dominante", disse Davis.

A rede social já esteve no olho do furacão por seu papel nos incidentes em torno de uma convenção de direita em Charlottesville (Virgínia), em 2017, quando um supremacista branco atropelou a multidão que protestava contra o evento e deixou uma pessoa morta.

O FBI encontrou conversas na Discord nas quais um líder supremacista branco parecia incentivar a violência no evento, e a Discord disse depois que proibiu os servidores que promoviam a ideologia neonazista.

A Discord também foi acusada de ser utilizada para o compartilhamento de pornografia infantil.

O atrativo desta rede é que não há nenhuma entidade central que exerça controle total, disse Michael Daniel, diretor-executivo da Cyber Threat Alliance (CTA), uma organização sem fins lucrativos que busca melhorar a cibersegurança do mundo digital global.

Daniel destacou que não há ninguém responsável por verificar a identidade do usuário, o que torna esses fóruns ideais para pessoas que desejam publicar informação na internet de forma anônima.

Um porta-voz da Discord disse à AFP que a segurança de seus usuários é a prioridade da plataforma e que qualquer conteúdo que viole suas regras poderia resultar na exclusão do infrator, no fechamento dos grupos de discussão e em uma denúncia às autoridades.

A companhia também disse que está cooperando com as forças da ordem a respeito do vazamento de documentos classificados.