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Após gerar pânico na Coreia do Sul, satélite norte-coreano falha e cai no mar

31/05/2023 06h33Atualizada em 31/05/2023 14h58

A Coreia do Norte tentou colocar em órbita nesta quarta-feira (31) um satélite espião, o que provocou o acionamento de sirenes de alerta na Coreia do Sul e no Japão, mas o foguete que o transportava caiu no mar sem alcançar seu objetivo, após uma falha técnica.

"O lançamento do novo foguete de transporte por satélite 'Chollima-1' caiu no Mar Ocidental (Amarelo) depois de perder o impulso devido ao arranque irregular do motor de dois estágios", informou a agência oficial norte-coreana de notícias KCNA.

O projétil "desapareceu rapidamente dos radares antes de alcançar o ponto de chegada previsto", destacou o exército sul-coreano, de acordo com a agência Yonhap.

Seul divulgou imagens dos destroços do satélite e do lançador, que a Coreia do Sul afirma ter recuperado no Mar Amarelo, a 200 km da ilha de Eocheong.

As imagens mostram uma grande estrutura metálica em forma de cilindro com alguns tubos e cabos na extremidade.

"Com os destroços recuperados, os especialistas poderão ter uma ideia das capacidades da Coreia do Norte", declarou à AFP o analista americano Ankit Pand

O governo dos Estados Unidos condenou "fortemente" o lançamento do satélite e advertiu que o ato "aumenta as tensões" na região.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu à Coreia do Norte o "fim de tais atos" e o retorno à mesa de negociações.

"Qualquer lançamento com tecnologia de mísseis balísticos é contrário às resoluções do Conselho de Segurança", afirmou em um comunicado.

Pânico e confusão

O lançamento, no início da manhã, provocou grande confusão no Japão e na Coreia do Sul.

Em Seul, capital sul-coreana, as sirenes foram acionadas e a prefeitura enviou a todos os smartphones um alerta de "emergência crítica" às 6h41 (18h41 de Brasília, terça-feira).

O alerta, que pedia a todos os cidadãos que se preparassem para uma evacuação, com prioridade para "crianças e idosos", foi cancelado poucos minutos depois. O ministério do Interior informou que a mensagem foi enviada por engano.

O exército sul-coreano, citado pela agência Yonhap, destacou que a área metropolitana de Seul não foi ameaçada pelo foguete.

"Eu estava levando meus filhos pequenos para um estacionamento no subsolo", declarou à AFP um homem de 37 anos, que estava "indignado" com o erro.

Também foi divulgado um alerta de míssil para o departamento japonês de Okinawa (sul) e a população recebeu a orientação de procurar abrigo. A advertência foi suspensa 30 minutos depois.

Pyongyang havia anunciado na terça-feira a intenção de colocar em órbita, entre 31 de maio e 11 de junho, um satélite espião para "lidar antecipadamente e em tempo real com os perigosos atos militares dos Estados Unidos e suas forças vassalas."

O comentário foi uma referência aos exercícios militares conjuntos de Washington e Seul nas proximidades da península coreana, que Pyongyang considera ensaios para uma invasão.

A Administração Nacional de Desenvolvimento Aeroespacial da Coreia do Norte atribuiu a falha no lançamento à "baixa confiabilidade e estabilidade do novo sistema de motor aplicado ao Chollima-1 e à natureza instável do combustível utilizado".

A agência afirmou que pretende investigar de maneira profunda as "falhas graves" reveladas no lançamento do satélite e que fará uma nova tentativa "o mais rápido possível".

Mísseis dissimulados?

O Japão também condenou o lançamento e lembrou que viola as resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

Como foguetes de longo alcance e lançadores espaciais compartilham a mesma tecnologia, os analistas acreditam que o desenvolvimento da capacidade de colocar um satélite em órbita daria a Pyongyang a cobertura para testar mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) proibidos.

O fracasso desta quarta-feira deve ser considerado um revés temporário para o líder norte-coreano, Kim Jong Un, que seguirá estimulando o desenvolvimento dos programas nuclear e de satélites, de acordo com os analistas.

"Sabemos que a determinação de Kim não termina com esta atividade recente", declarou Soo Kim, da LMI Consulting e ex-analista da CIA, à AFP.

E acrescentou que o lançamento pode ser um "prelúdio para novas provocações, incluindo o teste nuclear sobre o qual há muito especulamos".

Após o rompimento do diálogo com Washington sobre o programa nuclear norte-coreano em 2019, Pyongyang intensificou o desenvolvimento de seu programa nuclear, com uma série de testes de armas, incluindo o lançamento de vários ICBMs.

Desde 1998, Pyongyang lançou cinco satélites, três dos quais falharam imediatamente e dois parecem ter atingido a órbita, embora seus sinais nunca tenham sido detectados independentemente, o que pode ser provocado por um mau funcionamento.