'As pessoas foram carbonizadas', conta palestino em campo atingido por bombardeio
"As pessoas não foram feridas nem mortas, foram carbonizadas", descreve Mohamad Hamad, um dia após o bombardeio israelense que atingiu um campo de deslocados em Rafah, no sul da Faixa de Gaza.
Em meio aos escombros, crianças recolhem sacos de batata frita que se salvaram das chamas, enquanto um grupo de homens limpa o que restou das barracas.
A operação israelense, que ocorreu na noite de ontem e durou horas, matou 45 pessoas, segundo autoridades da Faixa de Gaza, governada pelo movimento islamista palestino Hamas desde 2007. "A filha do meu primo, de 13 anos, no máximo, foi uma das 'mártires'. Estava irreconhecível, porque o impacto arrancou seu rosto", contou Hamad, 24.
O Exército de Israel informou que um dos seus aviões atingiu ontem uma instalação do Hamas em Rafah e que matou duas autoridades do movimento islamista, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
O bombardeio provocou um incêndio que atingiu o campo de deslocados da área de Tal Al Sultan, que abrigava moradores de Gaza que haviam fugido dos mais de sete meses de conflito entre o Exército israelense e o Hamas. Na manhã de hoje, restavam no campo apenas pedaços de chapa enegrecidos e tábuas de madeira carbonizadas.
Como um terremoto
"Quando ouvimos o barulho, o céu se iluminou de repente", disse à AFP o deslocado palestino Mouhanad, que testemunhou a tragédia. "Vimos corpos carbonizados e pessoas desmembradas após o uso de mísseis, que provocaram um incêndio em massa", contou Mohamad al Mughayyir, chefe da agência de defesa civil da Faixa de Gaza.
A escassez de combustível e água dificultou o combate ao fogo, ressaltou Mughayyir. "Entre os mortos, havia pessoas desmembradas, crianças, mulheres e idosos."
Um grupo de palestinos que havia se refugiado nessa parte da cidade após receber ordens do Exército israelense para deixar outros setores manifestou sua incompreensão.
"Disseram que fossemos para a zona humanitária de Tal al Sultan, então obedecemos e viemos para cá", contou Abu Mohamed, que chegou a Rafah semanas após o começo do conflito, que teve início em outubro. "Ontem, enquanto eu jantava, senti algo semelhante a um terremoto."
Clínica cheia de mortos
Na clínica Tal al Sultan, o chão está coberto de corpos enrolados em lençóis brancos. Os mortos são colocados em caminhões, para serem enterrados.
Em meio ao ambiente macabro, um homem chora a morte da irmã, que morreu no ataque. "Estava grávida de sete meses, seu quarto foi bombardeado", diz Ahmed Miqdad.
Tanto o Exército quanto o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, informaram hoje que o bombardeio está sendo investigado. Foi "um acidente trágico", disse o líder israelense.
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