Julian Assange, o homem que virou símbolo da liberdade de informação

Julian Assange, que pode conquistar a liberdade na quarta-feira (26) se um tribunal americano ratificar seu acordo de culpa com as autoridades dos Estados Unidos, virou um símbolo da liberdade de informação.

Após 12 anos confinamento, os primeiros sete deles como refugiado noa embaixada do Equador e depois outros cinco em uma penitenciária de segurança máxima na região de Londres, o fundador do WikiLeaks se aproxima do final de um pesadelo.

Para deixar para trás a saga judicial, um juiz das Ilhas Marianas, território americano na região do Pacífico, deve ratificar o acordo de culpa alcançado pelo australiano de 52 anos com as autoridades de Washington.

Stella Assange, esposa do fundador de WikiLeaks, declarou à BBC que o acordo implica que seu marido se declare culpado de uma acusação.

"A acusação diz respeito a atos de espionagem e obtenção e divulgação de informações sobre a defesa nacional", disse.

O anúncio da provável libertação aconteceu duas semanas antes de uma audiência crucial na Justiça britânica, que examinaria o último recurso contra sua extradição para os Estados Unidos.

A família e os amigos de Assange insistiam que o australiano estava com a saúde debilitada após 12 anos privado da liberdade. A defesa destacou em várias audiências o risco de suicídio.

- Acusações na Suécia -

O pesadelo de Assange começou em 2006, quando ele criou um veículo de comunicação sem fins lucrativos chamado WikiLeaks, que publicou, segundo o próprio site, mais de 10 milhões de documentos confidenciais, fornecidos por fontes anônimas.

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Os Estados Unidos depararam-se subitamente com um veículo de comunicação que revelou os documentos secretos vazados do Pentágono sobre as suas operações no Iraque e no Afeganistão, assim como a correspondência secreta do governo e das suas embaixadas em todo o mundo.

Em 2010, quando o WikiLeaks atingiu o pico de popularidade com os vazamentos, a Suécia exigiu a prisão de Assange sob a acusação de estupro de uma mulher durante uma visita a Estocolmo para participar em uma conferência. A acusação foi posteriormente retirada. 

Assange negou a veracidade da acusação, mas em maio de 2012 um tribunal de Londres concordou com sua extradição para a Suécia.

Pouco depois, em junho de 2012, para evitar a extradição, Assange refugiou-se na embaixada do Equador em Londres, onde permaneceu por sete anos, durante o governo de Rafael Correa. 

Com a chegada de Lenín Moreno ao poder no Equador, o país deixou de conceder asilo ao australiano e ele foi detido em abril de 2019 pela polícia britânica e levado para a penitenciária de segurança máxima de Belmarsh, no sudeste de Londres.

- "Um novo capítulo" -

Sua esposa, Stella, revelou em 2020 que teve dois filhos com Assange enquanto ele morava na embaixada do Equador e ela integrava a equipe jurídica que trabalhava para ele.

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"A prioridade agora é que Julian recupere sua saúde", declarou nesta terça-feira à BBC.

"Ele está em péssimo estado há cinco anos e deseja ter contato com a natureza. É isso que ambos queremos agora, ter tempo e privacidade, e simplesmente começar este novo capítulo", concluiu a advogada de 40 anos, que nasceu na África do Sul.

O fundador do WikiLeaks nasceu em Townsville, no nordeste da Austrália, sem conhecer o pai, John Shipton, até os 25 anos, porque a sua mãe se separou dele antes do nascimento de Julian.

A mãe teve um novo relacionamento, com Brett Assange, de quem ele herdou o sobrenome, mas de quem a mulher se separou quando o menino tinha oito anos. 

Na primeira parte da infância, Julian Assange levou uma vida "nômade", já que sua mãe e seu padrasto fundaram uma companhia de teatro e viviam viajando. 

Após uma nova separação, sua mãe se casou e teve outro filho com um músico, Leif Meynell, membro de uma seita na qual Assange viveu.

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Meynell maltratou Assange e a sua mãe, e eles acabaram fugindo.

Atraído pela computação de forma autodidata, entre 2003 e 2006 estudou Física e Matemática, além de Filosofia, na Universidade de Melbourne, sem concluir nenhuma graduação. 

Isso não o impediria de criar uma página na Internet, o WikiLeaks, que se tornou um símbolo da liberdade de informação.

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© Agence France-Presse

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