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Em rara atitude, Renan encerra sessão após bate-boca em torno do impeachment

30/03/2016 20h28

Brasília - O clima de beligerância entre os senadores aliados da presidente Dilma Rousseff e os defensores do impeachment da petista chegou ao Senado nesta quarta-feira, 30, um dia após a decisão da direção do PMDB de entregar os cargos no governo. Após uma sessão em que a todo o momento os dois lados trocavam acusações, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu nesta noite encerrar os trabalhos do plenário sem a conclusão da votação de uma medida provisória que abria crédito no valor de R$ 1,3 bilhão a ministérios (MP 709).

Durante a sessão, o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), reclamou que o governo teria feito uma "pedalada" por usar dinheiro dos trabalhadores e não do orçamento da União para garantir o repasse de recursos para o Programa Minha Casa Minha Vida. Segundo ele, o Executivo editou a Medida Provisória 698/2015 para destinar R$ 4,8 bilhões do FGTS a fundo perdido para a nova fase do programa.

Em seguida, disse Caiado, o governo cancelou, por meio da MP 709, R$ 720 milhões em recursos do orçamento de um fundo que é utilizado para sustentar o programa habitacional. "Então, é cortesia com o chapéu do trabalhador brasileiro", criticou o líder do DEM, referindo-se ao fato de que os recursos do FGTS serem dos trabalhadores.

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) interveio e disse que a MP 698 era matéria vencida, por ter sido aprovada pouco antes pelo senadores. Caiado rebateu-a dizendo que ele estava, sim, discutindo a MP 709 e que ela não teria prestado a atenção por estar conversando com um assessor. Para ele, é um "contrassenso" o que o governo fez.

"Como é que vocês querem que o FGTS dê, a fundo perdido, 4,8 bilhões para o Governo fazer casa, sendo que vocês, naquilo que é do orçamento, vocês cortam R$ 720 milhões?" questionou o líder do DEM.

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) retrucou e disse que havia um "elitismo exacerbado" do colega do DEM ao defender que não há como se fazer casa para pobre sem o uso dos recursos subsidiados do FGTS. Caiado subiu o tom e acusou o Palácio do Planalto de ter se transformado em comitê contra o impeachment e que a sociedade está cansada desse "engodo".

A partir daí, Caiado e senadores alinhados ao governo começaram a trocar acusações. "O Brasil, que já está no fundo do poço, se não tiver o impeachment da Presidente, esse Brasil realmente vai entrar num processo de convulsão social", acusou o líder do DEM. O líder do governo, o petista Humberto Costa (PE), questionou-o sobre quem pagou o champanhe e o filé mignon e disse que Caiado queria atrapalhar a votação da MP 709. "Para de falar bobagem!", pediu Costa.

O líder do DEM continuou as queixas e disse que o governo vai precisar de 172 ministérios para distribuir a cada um dos deputados para barrar o impeachment na Câmara. Renan suspendeu por um minuto e logo na reabertura alertou que, se houvesse novas interrupções, ele "talvez" encerrasse a sessão.

O aviso não surtiu efeito, porque continuaram discutindo a conjuntura política. O senador peemedebista Romero Jucá (RR) afirmou que o PMDB está pronto para debater o que for preciso. "Agora, nós não vamos calar. Debater nessa medida provisória... Eu tive a informação de que o senador Lindbergh disse que o PMDB está cortando R$ 30 bilhões de Bolsa Família. Isso não é verdade! Não é o assunto da medida provisória. Agora, quero dizer que estarei à disposição", disse.

Lindbergh Farias disse ter se referido a uma entrevista recente concedida pelo ex-ministro Moreira Franco dada ao jornal O Estado de S.Paulo. "Está encerrada a sessão", anunciou Renan, retirando-se logo em seguida do plenário sem dar entrevistas.