Alvo dos militares, favela expõe desafio na segurança no Rio
Quando viu na TV a notícia da intervenção na segurança do Rio, há quase um mês, o agente comunitário João (nome fictício) não imaginou que a Vila Kennedy, favela da esquecida zona oeste onde vive há 38 anos, seria a escolhida pelas Forças Armadas para concentrar suas ações. O trabalho no local, segundo os militares, vai servir como modelo para futuras ações. Do dia 23 até ontem, as tropas estiveram lá seis vezes e a PM, uma. Ainda não houve resultados significativos de apreensões de drogas e prisões.
"Por que a Vila Kennedy?", João e seus vizinhos se perguntam. "Não entendemos até agora. Os militares entram, ficam oito horas e vão embora. Tiram barricadas do tráfico, os moleques recolocam logo, e voltam a circular nos mesmos lugares. Tive esperança, achei que viriam médicos e professores, mas até agora nada", conta João.
A passagem das tropas não acabou com a rotina de medo na favela, dominada pelo tráfico de drogas. Na segunda, um dia após operação militar na área, um idoso morreu vítima de bala perdida. Outra moradora foi atingida na coxa.
A UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) instalada na favela em 2014 --a última das 38 do Estado-- não cumpriu a missão de controlar a violência a longo prazo. Pelos dados oficiais, a média anual de homicídios de 2007 a 2013 foi de 13,28; em 2014, caiu para 4. Mas, no ano seguinte, subiu para 11 e foi a 12 no primeiro semestre de 2016 - últimos números disponíveis.
A preferência pela favela, conjunto iniciado nos anos 1960 às margens da Avenida Brasil, via de maior fluxo de veículos da cidade, tem motivação geográfica, segundo os militares. Antes da sequência de ações, foi registrada a morte de um tenente e de um militar no local, mas as Forças Armadas não confirmam relação entre esses crimes e o foco na comunidade.
Porta-voz do Comando Militar do Leste, Carlos Frederico Cinelli diz que a favela está perto de unidades militares que empregam a maior parte dos efetivos, viaturas e equipamentos. O maquinário tem sido usado para retirar barreiras feitas com trilhos de trem encravados no solo e barreiras de concreto, que dificultam o deslocamento, mas elas são repostas pelo tráfico.
Desde o início da intervenção, os bandidos receberam caminhões de areia e cimento e coagiram moradores para refazer os bloqueios. A barreira é usada por criminosos no Rio para dificultar o acesso da polícia.
Crítica
Para o sociólogo Ignacio Cano, da UERJ (Universidade do Estado do Rio), "as barricadas viraram questão de honra" para as tropas.
Os critérios usados na intervenção, defende, deveriam ser mais claros. "A situação na Vila Kennedy sempre foi complicada, mas não tanto quanto o Complexo do Alemão, por exemplo."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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