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Embaixador francês ironiza Bolsonaro após crítica sobre imigração

Jamil Chade, correpondente

Genebra

20/12/2018 09h20

Depois de uma troca de comentários pouco diplomáticos por parte do presidente francês, Emmanuel Macron, foi a vez agora de um embaixador da França ironizar o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

No início da semana, o futuro presidente brasileiro havia descrito a situação na França como "insuportável" diante da presença de imigrantes. Nas redes sociais, foi o embaixador francês nos Estados Unidos, Gérard Araud, quem respondeu a Bolsonaro, citando os índices de violência nos dois países.

"63.880 homicídios no Brasil em 2017, 825 na França. Sem comentários", escreveu o embaixador nas redes sociais, difundindo uma matéria descrevendo as declarações de Bolsonaro. O diplomata ocupa um dos cargos mais importantes da chancelaria francesa desde 2014. Antes, havia sido o embaixador da França na ONU - outro cargo de prestígio na carreira.

O caso foi mais um episódio de uma relação cada vez mais azeda entre o novo governo brasileiro e Paris. Ao explicar o motivo pelo qual ele não iria aderir ao Pacto da ONU para a Migração, o presidente eleito usou o exemplo do país europeu para explicar o impacto da entrada de estrangeiros.

"Todo mundo sabe o que está acontecendo com a França. Está simplesmente insuportável viver em alguns locais da França. E a tendência é aumentar a intolerância. Os que foram para lá, o povo francês acolheu da melhor maneira possível. Mas vocês sabem da história dessa gente, né?", disse o presidente eleito.

"Querem fazer valer sua cultura, os seus direitos e os seus privilégios e a França está sofrendo com isso e parte da população, parte das Forças Armadas, parte das instituições começam a reclamar no tocante a isso. Então não queremos sofrer com isso aqui no Brasil", disse Bolsonaro.

Há poucas semanas, em Buenos Aires, Macron criticou abertamente Bolsonaro por conta de suas posições sobre mudanças climáticas. O francês ainda deixou claro que, se houver uma retirada do Brasil do Acordo de Paris, não haverá um entendimento entre a UE e o Mercosul no comércio.

Até mesmo a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, já havia afirmado que Bolsonaro diz "coisas desagradáveis que são intransponíveis na França".

Outro francês, o chefe da pasta de economia da União Europeia (UE), Pierre Moscovici, também lançou críticas contra o brasileiro. "Bolsonaro é evidentemente um populista de extrema direita", disse o ex-ministro francês em diferentes governos socialistas em declarações à TV do senado francês. "Atrás dele, vemos a sombra dos militares que estiveram por um longo tempo no poder no Brasil, constituindo uma ditadura terrível", declarou.