Após Mariana, especialistas pressionavam por lei mais rígida para barragens
"Entre idas e vindas, não conseguimos avançar com a Lei de Segurança das Barragens que ficou para a próxima legislatura", explicou Leonardo Ivo, presidente da associação e especialista em gestão ambiental. "A única coisa que temos hoje é a lei para o licenciamento das barragens."
Por conta do subsolo rico em ferro, Minas tem boa parte de sua economia calcada na exploração do minério. A grande maioria das plantas de exploração conta com barragens de resíduos chamadas de "a montante", ou seja, em que os resíduos resultantes da exploração do minério são acumulados em várias camadas que vão se empilhando ao longo do tempo. Existem tecnologias mais modernas para o tratamento dos resíduos, mas elas são mais caras. No Estado, a questão é agravada porque as barragens estão muito próximas de áreas povoadas.
"São três pontos principais pelos quais lutamos e que já deveriam ter sido alterados", explica Leonardo Ivo. "O primeiro deles é que as barragens devem ficar a pelo menos dez quilômetros de distância de qualquer comunidade; o segundo é a existência de uma caução ou seguro para arcar com eventuais danos ou impactos e, ainda, uma nova tecnologia de disposição de rejeitos, a seco", diz o promotor de Justiça Guilherme de Sá Meneghin, que atuou no caso do rompimento da barragem de Mariana, afirmou que o novo rompimento está longe de ser uma surpresa.
"Esse modelo de barragem a montante localizado acima das comunidades está sujeito ao desastre. Porque, caso a barragem se rompa vai, inevitavelmente, atingir a comunidade. Precisamos ter outro tipo de disposição de rejeitos de minérios. Mas as mineradoras brasileiras preferem utilizar a mais barata, a mais lucrativa, a que é mais arriscada", afirmou Meneghin. "É uma bomba relógio."
Professor de engenharia geotécnica da Coppe/UFRJ, Maurício Ehrlich explica que esse tipo de barragem é construída em vales, comuns na paisagem mineira. Conforme ela se enche de resíduos, é fechada. Uma nova camada de resíduos é acumulada por cima e, assim, sucessivamente. O método não é usado apenas no Brasil e tampouco é ilegal. Mas é considerado de maior risco.
"São várias questões, desde a drenagem da água, passando pela inclinação do terreno, disposição dos rejeitos", explica Ehrlich. "É mais difícil de controlar, mais sujeito a surpresas, justamente porque se constrói por cima dos rejeitos não é tão consolidado."
Para Meneghin, no entanto, não se pode falar em acidente. "Do ponto de vista penal, não é um acidente, não é algo imprevisível e incontrolável", explicou. "É um crime, um desastre causado pelo homem, fruto da irresponsabilidade de quem comandou e operou a barragem."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.