Hackers atacaram mais autoridades ligadas à Lava Jato
Além do ex-juiz federal e hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e do procurador da República Deltan Dallagnol, os celulares de pelo menos outras oito autoridades que atuam ou atuaram em investigações ligadas à Operação Lava Jato em quatro Estados foram alvo de tentativa ou de invasão consumada por hackers.
Entre eles, estão juízes, desembargadores e até o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. Há também registro de um jornalista que teve seu celular vasculhado por invasores.
Em ofício encaminhado ontem à Polícia Federal, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitou a unificação da investigação "de forma que possa esclarecer, além do modo de atuação criminoso, os motivos e eventuais contratantes de um ataque cibernético sistemático contra membros do Ministério Público Federal, principalmente aqueles que atuam nas forças-tarefa da Lava Jato do Rio e Curitiba".
Como revelou o Estado, a PF instaurou quatro inquéritos para apurar as invasões. Cada um deles tem mais de uma pessoa atingida.
Entre os magistrados que podem ter tido seus celulares invadidos, estão o desembargador federal Abel Gomes, relator dos processos da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2); o juiz Flávio de Oliveira Lucas, que atou como substituto nas férias de Gomes; e a juíza federal Gabriela Hardt, que substituiu Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba entre novembro de 2018 e abril de 2019.
Os procuradores são Thaméa Danelon, ex-coordenadora da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, Andrey Borges, Marcelo Weitzel e Danilo Dias.
'Hacker aqui'
O site do Estadão revelou ontem que até mesmo integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) foram alvo de ataque.
Eles receberam no grupo do colegiado no Telegram mensagem do celular do conselheiro Marcelo Weitzel que dizia que o caso revelado no domingo pelo site The Intercept Brasil, com supostos diálogos entre Moro e Dallagnol, é "uma amostra do que vocês vão ver na semana que vem".
Os colegas estranharam o tom das mensagens e questionaram Weitzel no grupo. Na sequência, receberam outro texto dizendo: "hacker aqui".
Os conselheiros, então, ligaram para Weitzel, que afirmou que não estava usando o aparelho no momento do envio das mensagens. O procurador regional José Robalinho Cavalcanti, candidato à lista tríplice para ser o novo procurador-geral da República, também recebeu mensagens às 21h de terça-feira do suposto invasor do celular de Weitzel.
Fontes da PF desconfiam que o hacker que copiou mensagens publicadas pelo The Intercept Brasil não é o mesmo que tenta dialogar com os procuradores. Seria apenas alguém tentando "pegar carona na história". A desconfiança ocorre porque não é um padrão de comportamento desse tipo de criminoso.
Até agora, já se sabe que pelo menos uma das mensagens divulgadas pelo site foi adulterada. Quem participou do diálogo em questão afirma que a conclusão não foi a mesma divulgada pelo site.
Invasões
Em nota, o TRF-2 informou que no dia 5 de junho os telefones celulares do desembargador Abel Gomes e do juiz Flávio de Oliveira Lucas foram alvo de tentativa de invasão ao aplicativo Telegram.
Gomes recebeu ligações telefônicas suspeitas. Ele é relator dos processos das Operações Calicute, Cadeia Velha e Furna da Onça, que têm como réus o ex-governador Sérgio Cabral (MDB), deputados estaduais do Rio, empresários e agentes públicos.
Em nota divulgada ontem, a juíza Gabriela Hardt confirmou que seu telefone foi invadido, mas disse que "não verificou informações pessoais sensíveis que tenham sido expostas".
No texto, ela afirma que "entende que a invasão de aparelhos de autoridades públicas é um fato grave que atenta contra a segurança de Estado e merece das autoridades uma resposta firme".
O Ministério Público Federal no Paraná afirmou, em nota, que "diálogos inteiros podem ter sido forjados pelo hacker ao se passar por autoridades e seus interlocutores".
O Ministério Público de São Paulo disse que as tentativas de invasão aos telefones funcionais dos procuradores Thaméa Danelon e Andrey Borges ocorreram quando não integravam mais a força-tarefa da Lava Jato de São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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