'Acho que fez uma coisa muito grave, se for verdade', diz avó de preso
Dona Otília Gomes Delgatti, 82, ainda não se recuperou do susto quando, na terça-feira passada (23), quatro carros da Polícia Federal cercaram sua casa, numa esquina da avenida Santa Inês, na Vila Santa Maria, em Araraquara, interior de São Paulo.
Os agentes procuravam seu neto, Walter Delgatti Neto, 30, suspeito de invadir os celulares de autoridades como o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o próprio presidente Jair Bolsonaro (PSL). "Acho que ele fez uma coisa muito grave, se for verdade", afirmou.
Delgatti foi um dos quatro presos na operação de terça-feira. Ele foi localizado em Ribeirão Preto. Em depoimento, assumiu ter hackeado o telefone de Moro e outras autoridades, segundo a PF.
O aparato policial na casa de Dona Otília chamou a atenção dos vizinhos, pouco acostumados ao movimento no pacato bairro residencial, embora próximo do centro. A senhora descansava quando os agentes chegaram.
Reviraram a casa inteira, procuraram até no quintal e na casa do cachorro
Otília Gomes Delgatti, avó de um dos suspeitos de invadir o celular de Moro
"Eles foram educados, até gentis comigo. Foram ao quarto, ao banheiro, procuraram em tudo, mas meu neto, que eles procuravam, não estava. Ele saiu daqui em abril e eu esperava que ele voltasse. O Neto dava notícias, dizia que estava em São Paulo. Só soube da prisão depois que a polícia foi embora. Ele estava em Ribeirão Preto, em um hotel. Eu não sabia", afirmou.
Dona Otília, que mora com outro neto, Wisley, irmão de Walter, disse que os dois ficaram abalados após a morte do pai, Walter Filho, no dia 20 de novembro de 2018.
"O Waltinho morreu engasgado com comida. Teve um enfarte enquanto comia. Eles ficaram arrasados." Ela tem outro filho, tio de Walter, que trabalha na prefeitura.
Conforme a senhora, seus netos eram pouco ligados à mãe deles, Silvana Aparecida Francisco Delgatti, que mora em outro bairro, o Selmi Dei. "Era tudo aqui comigo, eu os criei como filhos, a referência deles é esta casa que meu marido me deixou", afirmou. Silvana não tinha sido localizada pela reportagem até o início da tarde.
A avó contou que Walter sempre foi um rapaz curioso e inteligente. "Ele tinha 12 anos quando veio morar comigo. Eu e meu marido cuidávamos dele. O Neto sabia conversar e, que eu saiba, não fazia nada errado. Estão falando muitas coisas. O celular do Moro e também do Bolsonaro... quanta elegância!", disse.
A idosa acompanha o noticiário por uma televisão antiga, de tubo. "Já saí na televisão, vieram aqui, me entrevistaram, mas eu não sabia de nada. Eu não esperava nada disso. Não conheço os outros meninos, o tal de Guto (o DJ Gustavo Santos, também preso) nunca veio aqui."
Conforme a avó, o neto levava uma vida que, para ela, era normal. "Ele é muito bom, tinha muitos amigos. Não era casado, então tinha as namoradas por aí, corria o trecho passeando." Ela disse que o outro neto, Wisley, chegou a falar com um advogado. "Ele disse que em cinco dias o Neto vai estar aqui. Acho que ele volta logo. Vou ficar esperando."
Vizinhos da família dizem que o rapaz é simpático, mas ninguém sabia da vida privada dele. Muitos não quiseram se identificar. O pintor Sebastião Luiz Filho, 62, que conhece os Delgatti há 30 anos, disse que o Walter não aparentava nada de errado.
"Era um menino bom com as pessoas, tratava todo mundo bem. A avó dele, essa senhora, é uma pessoa boníssima. A molecada, hoje em dia, a gente não sabe quando vai aprontar." Sebastião disse que Neto não aparentava ter dinheiro. "Às vezes ele estava de carro, outras chegava a pé. Ultimamente ele não era visto aqui pelo bairro."
Na delegacia seccional da Polícia Civil de Araraquara nenhum policial quis falar do caso. O delegado seccional substituto Vinícius Moreira disse que o caso está sendo conduzido pela Polícia Federal e que também não falaria sobre a vida pregressa do hacker.
O advogado Toni Rogério Silvano Onofre, com escritório próximo da delegacia, disse que foi procurado por um parente de Walter Delgatti.
"Foi uma conversa no sentido de acompanharmos o Walter em Brasília e aqui, mas ainda não fechamos. Preciso ver o caso em mais detalhes. Já fizemos casos de hacker e tivemos sucesso", disse.
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