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Queimadas na Amazônia geraram custo adicional de ao menos R$ 1,5 milhão ao SUS

Foco de incêndio na Floresta Amazônia em São Félix do Xingu, no Pará, registrado pelo Greenpeace - Daniel Beltrá/Greenpeace
Foco de incêndio na Floresta Amazônia em São Félix do Xingu, no Pará, registrado pelo Greenpeace Imagem: Daniel Beltrá/Greenpeace

Marcio Dolzan

Rio

02/10/2019 14h45

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado na manhã desta quarta-feira, 2, apontou que as queimadas na Amazônia geraram um custo excedente de pelo menos R$ 1,5 milhão ao Sistema Único de Saúde (SUS) somente para o atendimento de crianças de até 10 anos. A pesquisa concluiu que, nas áreas mais afetadas pelo fogo, o número de crianças internadas com problemas respiratórios dobrou.

Ao todo, em maio e junho deste ano, o SUS registrou a internação de 5,1 mil crianças, 2,5 mil a mais do que o normal, em 100 municípios da Amazônia Legal, em especial nos Estados do Pará, Rondônia, Maranhão e Mato Grosso.

"Nós notamos que, em geral, 6% dos leitos nos hospitais são dedicados à internação por problemas respiratórios, mas nesse período dobrou, chegou a 12%, sobrecarregando os hospitais", disse o sanitarista Christovam Barcellos, da Fiocruz, que coordenou o estudo.

A pesquisa leva em conta apenas os leitos operados pelos SUS, o que indica que o impacto das queimadas na saúde deve ser muito maior. "Neste momento, a pesquisa considera apenas crianças de até 10 anos, mas há ainda os idosos, adultos com problemas respiratórios e população indígena, que tem praticamente um serviço de atendimento de saúde à parte", assinala Barcellos.

A pesquisa levou em consideração as queimadas que acontecem no que é chamado de Arco do Desmatamento, que inclui os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, parte do Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins, em geral, de maio a outubro. E isso também serve de alerta para mostrar que o impacto dos resíduos de fumaça pode atingir pessoas a muitos quilômetros dos focos de incêndio.

"Essa fumaça pode percorrer centenas de quilômetros. "Porto Velho não tinha nenhum foco de queimada, mas foi sobrecarregada de fuligem. O aeroporto de lá chegou a ser fechado por falta de visibilidade", ressalta Barcellos.

O pesquisador destaca que os números servem de alerta para um melhor aproveitamento das unidades de atenção básica à saúde - boa parte dos casos de internação, segundo ele, poderia ser evitada se houvesse um melhor atendimento nos postos de saúde.

"O SUS tem que ir para rua. Não pode esperar que as pessoas cheguem ao hospital, tem que ir às comunidades, fazer busca, reforçar os serviços de saúde do indígena, orientar sobre como se comportar nesses casos, fazer um primeiro socorro dentro de casa, procurar posto de saúde", aponta. "Na Amazônia, as distâncias são muito grandes, às vezes um atendimento pode levar dias só com deslocamento", alerta.

Os dados constam no informe técnico elaborado pelo Observatório de Clima e Saúde, projeto coordenado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), da Fiocruz, que contou também com cientistas da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).