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De olho em 2022, Cabo Daciolo tenta recriar partido de Enéas

O ex-candidato Cabo Daciolo durante debate entre os presidenciáveis em 2018 - Eduardo Knapp/Folhapress
O ex-candidato Cabo Daciolo durante debate entre os presidenciáveis em 2018 Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Pedro Venceslau

São Paulo

07/12/2019 13h45

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro corre para criar seu partido a tempo de disputar as eleições municipais de 2020, o ex-presidenciável Cabo Daciolo não tem pressa com seu projeto de poder.

Depois de receber 1,3 milhão de votos e superar Marina Silva (Rede), Henrique Meirelles (MDB) e Álvaro Dias (Podemos) na disputa presidencial de 2018 (com menos de R$ 10 mil investidos), o ex-deputado e cabo do Corpo de Bombeiros deixou o Patriotas e nesse sábado, 7, liderou a convenção nacional de refundação do Prona (Partido da Restauração da Ordem Nacional).

A ideia, segundo ele, é começar agora a coleta de assinaturas para reerguer até 2022 a sigla criada pelo icônico ex-deputado Enéas Carneiro.

"Eu profetizo: serei presidente da República com 51% dos votos", disse Daciolo para uma plateia de cerca de 50 pessoas em um longo discurso no púlpito da Igreja da Unificação Mundial do Cristianismo, em Pinheiros, onde ocorreu a convenção do novo Prona.

O local foi decorado com totens de Enéas em tamanho real, banners com a imagem do ex-presidenciável, que morreu de câncer em 2007, e faixas com o slogan "Nós temos fé no Brasil. Daciolo 56".

No fim de seu discurso, o ex-deputado chamou para o palco o vice-presidente do Prona, João Vitor Sparano, e a ex-deputada Patrícia Lima, que foi secretária de Enéas e uma de suas herdeiras políticas.

"Eu não vou assumir a presidência do partido, que fica com você, Patrícia. Vocês nem conseguem falar comigo", disse Daciolo mostrando o seu celular modelo antigo e arrancando risos da plateia.

Em 2018, o então candidato, que anda sempre com uma bíblia na mão, se isolou em uma montanha em plena campanha para orar.

O novo Prona vai ter que passar por todo o ritual de criação de partidos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) porque a versão original do partido se fundiu com o PR em 2006, um ano antes da morte de Enéas.

Nos registros do TSE dois grupos tentam se registrar com o nome Prona. O de Daciolo, que conta com o apoio da ex-deputada e braço direito de Enéas, Havanir Nimitz, e outro do Rio de Janeiro.

"O Prona atende a tudo que o Daciolo pensa. Getúlio (Vargas) e Enéas são as grandes inspirações da minha vida", disse Daciolo, sempre se referindo na terceira pessoa.

Há, porém, uma divergência com o "legado" de Enéas. Para o ex-deputado a bomba atômica, uma obsessão do fundador do Prona, não é uma agenda prioritária.

Fiel ao seu estilo, Cabo Daciolo fez um discurso repleto de passagens bíblicas e teorias conspiratórias. "A nova ordem mundial serve ao mal. Vem para matar, roubar e destruir. Querem trazer esse caos da América do Sul para o Brasil".

O governo Bolsonaro também foi alvo de duras críticas do ex e futuro presidenciável. "A maçonaria comanda tudo e o alicerce desse governo é a maçonaria. O general Mourão, que é grão mestre, está louco para sentar na cadeira do Bolsonaro. Tem também o Paulo Guedes. O Bolsonaro está cercado de inimigos".

Um ponto que uniu Daciolo ao ideário de Enéas foi o nacionalismo exacerbado. O novo Prona defende a reestatização de empresas privatizadas, mas rejeita o rótulo de esquerda. "Esse papo de esquerda e direita é uma grande mentira. Querem dividir para conquistar. São amiguinhos. Como se transforma isso Daciolo? Da forma sobrenatural, a forma de Deus", disse Daciolo.