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Manifestação do dia 15 de março opõe apoiadores de Bolsonaro e da Lava Jato

Pedro Venceslau e Paula Reverbel, com colaboração de Ricardo Galhardo

São Paulo

28/02/2020 12h30

Grupos que organizam a manifestação convocada para o dia 15 de março em defesa do presidente Jair Bolsonaro e contra o Congresso estão divididos sobre as bandeiras que serão levadas às ruas. De um lado, apoiadores da família do presidente pressionam para que o mote do protesto seja apenas "somos todos Bolsonaro". Defensores da Lava Jato, no entanto, querem usar o ato para pressionar os políticos a aprovarem mudanças na lei para permitir a prisão após condenação em segunda instância.

A divergência levou a uma troca de ataques nas redes sociais. Bolsonaro enviou, de seu telefone, vídeos fazendo convocação para o ato, como mostrou na terça-feira o site BR Político, do Grupo Estado.

Integrantes de grupos como o República de Curitiba, que tem 432.605 seguidores, estão sendo atacados por defender também a agenda do ministro da Justiça, Sérgio Moro.

"Alguns grupos têm feito pressão para que não entrem outras pautas além da defesa do Bolsonaro, mas entendemos que a prisão após a segunda instância também é uma pauta do governo. Como não temos filiação partidária, não entramos nestas questões", disse Paulo Generoso, coordenador do República de Curitiba, um dos grupos pró-Lava Jato.

O grupo foi acusado nas redes sociais pelo Movimento Conservador, que tem 101.483 seguidores, de estar "sabotando" a pauta única. Ligado ao Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tenta criar, o Avança Brasil, com 1,7 milhão de seguidores, também rejeita incluir a prisão em segunda instância na manifestação.

"O objetivo é mostrar apoio das ruas ao presidente. A manifestação não tem que entrar na prisão em segunda instância", disse Patrick Folena, coordenador do grupo. A mesma linha é defendida pelos parlamentares bolsonaristas. "A pauta é única: apoio ao presidente e defesa da Constituição, que prevê o presidencialismo", disse o deputado Filipe Barros (PSL-PR).

Remanescentes do movimento que levou milhões de pessoas às ruas pelo impeachment de Dilma Rousseff, grupos como o Vem pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL) não aderiram à convocação para os atos. Eles defendem a prisão após segunda instância e o pacote anticrime de Moro, mas se negam a apoiar o Palácio do Planalto.

Orçamento

Mesmo após a polêmica causada pelo vídeo compartilhado por Bolsonaro no qual um narrador faz uma apelo dramático para a manifestação, os organizadores dos atos mantêm o discurso duro em relação ao Congresso Nacional e elegeram os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), como alvo.

Eles negam que defendam o fechamento das duas Casas e evitam pedir a saída de Maia e Alcolumbre, mas criticam o Orçamento impositivo, que foi promulgado pelo Congresso em junho. Ele determina a execução obrigatória de emendas parlamentares de bancada.

"Dia 15 estaremos nas ruas de todo o Brasil, defendendo um Congresso forte, composto por homens de bem, por políticos que entendam que os direitos do Legislativo cessam onde começam os do Executivo e do Judiciário. Nós não queremos Executivo fazendo leis, nem Legislativo nem Judiciário governando, mas todos se limitando às suas funções", diz o manifesto do Nas Ruas, grupo fundado pela deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP).

"Faço parte da ala governista. O que é importante salientar é que uma ação do Congresso quer levar o governo ao erro, fragilizar o governo politicamente a partir de janeiro de 2021", afirmou o deputado federal Luiz Philippe de Orleans Bragança (PSL-SP), defensor de Bolsonaro e integrante de movimentos de rua alinhados à direita.

Oposição

Já movimentos e partidos de oposição ao governo Bolsonaro decidiram ontem convocar manifestações no País contra o que classificam como manifestações autoritárias do presidente. O tema será "Ditadura Nunca Mais" e a ideia é concentrar as mobilizações no dia 18 de março.

O calendário e o mote foram decididos em reuniões entre as nove centrais sindicais e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reúnem centenas de movimentos sociais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.