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PE registra fila por UTI; profissional já tem de optar quem levar, diz secretário

Felipe Resk

29/04/2020 21h54

Em 3° lugar no número de mortes pelo novo coronavírus no Brasil, Pernambuco já registra fila de pacientes à espera de vaga em unidades intensivas de tratamento (UTI). "Os profissionais de saúde estão tendo de tomar opções sobre quem levar primeiro para terapia intensiva", afirmou o secretário estadual da Saúde, André Longo.

Segundo boletim epidemiológico desta quarta-feira, 29, Pernambuco confirmou 470 novos casos e 30 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas. Com isso, o Estado chegou a 538 mortes, atrás apenas de São Paulo e do Rio, e 6.194 diagnósticos desde o início da pandemia - dos quais 4.045 (65,3%) se enquadram como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e são considerados graves.

Diante do aumento acelerado das notificações, a gestão Paulo Câmara (PSB) afirma ter aumentado o número de leitos à disposição em UTIs públicas, mas que não foi suficiente para acompanhar a "franca aceleração da curva epidêmica". Também já há relatos de hospitais particulares lotados. Segundo o governo, há 1.002 internados -- 203 em UTIs e 799 em leitos de enfermaria, tanto na rede pública quanto privada.

"Tivemos aumento de 316% nas demandas de internação por covid-19 nas últimas duas semanas. Ou seja, a gente está sofrendo uma pressão muito grande no sistema de saúde", disse Longo. "Hoje, realmente temos uma situação crítica. Já há fila por leitos de UTI, que é extremamente dinâmica e varia de acordo com a hora do dia. Então pode captar uma fila, por vezes, maior do que cem pessoas. E, às vezes, por abertura de leitos, ela recua. Mas a pressão já leva a uma sobrecarga", acrescentou.

"Reconhecemos que a situação dos nossos serviços de saúde é muito difícil, porque as pessoas estão adoecendo ao mesmo tempo. Esse era um alerta que fazíamos desde o início", disse o secretário. De acordo com Longo, o Estado e a prefeitura do Recife abriram "mais de 400 leitos de UTI" nos últimos 40 dias.

O governo de Pernambuco culpa o desrespeito ao isolamento social e diz não estudar medidas para relaxar a quarentena. "O que está acontecendo hoje é reflexo de 14, 15 dias atrás", disse Longo. "Aqueles que desmerecem o isolamento social, que zombam dos casos de morte e ignoram a gravidade da situação não encontram espaço da nossa mesa de discussão."

'A guerra está a pleno vapor e vai aumentar ainda mais'

Chefe do setor de Infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no Recife, o médico infectologista Demetrius Montenegro confirma o aumento de pressão nas unidades de atendimento. O hospital é referência no tratamento ao coronavírus na capital. "É muito triste sair do hospital e ver o número de pacientes aumentando", disse Montenegro. "A guerra está a pleno vapor e vai aumentar ainda mais."

Em Pernambuco, profissionais de saúde de outras áreas, que atuam em ambulatórios ou em procedimentos eletivos foram convocados para a linha de frente contra a covid-19. O governo também estuda contratar médicos residentes para reforçar o quadro local. "Isso é uma guerra silenciosa. Ninguém escuta bomba estourando, mas se prestar atenção vai perceber o aumento das sirenes de ambulância passando pelas ruas", afirmou.