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Celso de Mello compartilha artigo crítico a Bolsonaro feito pelo Financial Times

Ministro Celso de Mello, do STF - UESLEI MARCELINO
Ministro Celso de Mello, do STF Imagem: UESLEI MARCELINO

Breno Pires

Brasília

07/06/2020 15h07

O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), compartilhou entre interlocutores um editorial do jornal britânico Financial Times. Texto afirmava que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acendeu o "medo" na democracia brasileira e criou um risco real e crescente de virada autoritária.

O artigo cita o próprio ministro, que é o mais antigo nos quadros do Supremo. O jornal faz referência à mensagem que Celso de Mello encaminhou na semana passada a interlocutores, comparando o Brasil atual e a Alemanha nazista de Hitler. Em mensagem de WhatsApp, no domingo, Mello acusou bolsonaristas de odiarem a democracia e de pretenderem instaurar uma "desprezível e abjeta ditadura".

"Isso pode soar exagerado", disse o Financial Times sobre a mensagem do decano. "Mas poucos presidentes eleitos atenderiam e contemplariam protestos nos quais os manifestantes pedem o fechamento do Congresso e da Suprema Corte, sendo substituídos por uma lei militar. Ainda assim, isso é o que o sr. Bolsonaro fez —não uma, mas várias vezes. No fim de semana passado, ele apareceu em uma dessas manifestações montado a cavalo", descreveu o jornal.

Na mensagem que enviou a interlocutores, com uma cópia do editorial do Financial Times, Mello disse que a "advertência" era necessária.

"Editorial de hoje, domingo, dia 07/06, do jornal britânico 'FINANCIAL TIMES' sobre a conduta inconstitucional de Bolsonaro, com referência à minha advertência, 'exaggerated', porém necessária em face dos contínuos ataques à Corte Suprema e ao Congresso Nacional , visando o seu 'shutdown' (fechamento)!", escreveu hoje Celso de Mello no WhatsApp.

O decano do Supremo Tribunal Federal é o relator do inquérito que investiga a interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, com base em acusação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro. A investigação pode levar ao afastamento do presidente da República se eventual denúncia da Procuradoria-Geral da República não for aceita pela Câmara dos Deputados.

O veículo de comunicação britânico, que tem orientação conservadora, também citou os militares colocados pelo presidente na administração federal e a resposta do ministro Augusto Heleno ao supremo, quando o celular do presidente foi solicitado pelo STF.

O Palácio do Planalto tem acompanhado com atenção as declarações de Celso de Mello. No início da semana, foi cogitado um pedido de suspeição do ministro —ideia que havia perdido força. A avaliação —do governo e do próprio STF— é que as chances de o plenário do STF declarar Celso de Mello suspeito são quase nulas.

Ataque

O Financial Times comparou Bolsonaro a Trump, citando características comuns aos dois chefes de Estado, como o nacionalismo, a forma como usam o Twitter e as falas com o objetivo de intensificar a divisão entre seus apoiadores e a oposição.

"Mas, no Brasil, há uma possibilidade mais preocupante: que Bolsonaro, cada vez mais confrontado, esteja desiludido com o processo democrático pelo qual ele foi eleito e queira minar as instituições que sustentam o país", disse o jornal.

"Até o momento, as instituições brasileiras resistiram ao ataque, com forte apoio público. É improvável que o Exército apoie um golpe militar para instalar Bolsonaro como um autocrata. Mas outros países devem observar: os riscos para a maior democracia da América Latina são reais e estão crescendo", conclui o editorial.

Uma das publicações referência para investidores internacionais, o Financial Times também aponta problemas econômicos para o Brasil devido à instabilidade causada por Bolsonaro. "As esperanças de reforma econômica evaporaram e os investidores estão retirando capital do país", afirma o jornal.