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'Saímos com menos de 2 mil', explica Gabbardo sobre previsão de número de mortes

João Gabbardo dos Reis, secretário-executivo do Centro de Contingência do combate ao coronavírus em São Paulo - 27.mai.2020 - Rogério Galasse/Futura Press/Estadão Conteúdo
João Gabbardo dos Reis, secretário-executivo do Centro de Contingência do combate ao coronavírus em São Paulo Imagem: 27.mai.2020 - Rogério Galasse/Futura Press/Estadão Conteúdo

Mateus Vargas

Em São Paulo

09/08/2020 11h31

Ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo disse, em 3 de abril, que o Brasil dificilmente chegaria a 100 mil mortos pela covid-19. A declaração passou a circular nas redes sociais neste sábado, 8, quando o Brasil superou a trágica marca.

"No Brasil falar em 100 mil óbitos, nós não acreditamos que chegue nesse número. Vamos trabalhar para que não aconteça", afirmou Gabbardo à época, quando havia 359 mortos e 9.056 casos da covid-19 no País.

Agora coordenador executivo do Centro de Contingência Contra a Covid-19 em São Paulo, Gabbardo justifica a previsão: "Saímos do Ministério da Saúde com menos de 2 mil óbitos", afirma, referindo-se à soma de vítimas em 16 de abril, quando o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM) foi demitido.

O ex-secretário disse ainda ao Estadão que a análise foi feita por comparação de estatísticas de mortos da China. "Se as informações estivessem subnotificadas, essa previsão poderia ser alterada."

A previsão de Gabbardo foi feita em coletiva à imprensa no começo de abril. O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), sugeriu, na mesma ocasião, que os dados da China poderiam estar errados. "A não ser que o número da China não seja o que retrate a realidade. Isso daí as academias de ciência do mundo inteiro estão analisando", disse.

O oncologista Nelson Teich assumiu a Saúde na saída de Mandetta. Ele pediu demissão menos de um mês depois, em 15 de maio, quando o País registrava cerca de 15 mil mortes. Há 84 dias a pasta é comandada interinamente pelo general Eduardo Pazuello, período em que o número de mortes ultrapassou 100 mil.

Sabotagem

Em entrevista ao Estadão, Mandetta disse que, apesar de "sabotagem enorme" do chefe do Executivo, o cenário seria "infinitamente pior" se o presidente tivesse imposto uma estratégia de isolamento vertical.

"A gente conseguiu, durante um intervalo, falar para a população brasileira a realidade. E as pessoas conseguiram montar algumas defesas. Muita gente permanece fazendo o que é correto. Se fosse aquela história de quarentena vertical, sai todo mundo de casa e somente pessoas acima de 65 anos ficam, teria sido um número infinitamente superior", disse Mandetta ao Estadão.

"Ele (Bolsonaro) foi negacionista desde os primeiros dias. Entregou o jogo no primeiro tempo. A gente tentava trazê-lo de volta para a realidade. Mas ele se recusou. E se recusa até hoje a encarar a realidade, de que é falso o dilema entre economia e saúde", afirmou Mandetta.

O Planalto não quis comentar as declarações de Mandetta.