Natalini desiste da vida parlamentar em SP: 'não tenho mais com quem conversar'
A decisão de não disputar a reeleição foi anunciada nessa quarta-feira, 2, pelas redes sociais. Segundo o vereador, o tipo de política que ele pratica, baseada em ações coletivas de bem-estar social, não encontra mais eco na Câmara Municipal.
"Sou assim desde criança e vou morrer assim. A política tinha um pouco disso, mas esvaiu-se completamente. Mal tenho com quem conversar naquela Câmara. E nos partidos e nas lideranças. Os sonhos morreram. Espero que ressuscitem", disse.
Único representante do PV na atual legislatura - Reginaldo Tripoli elegeu-se pelo partido, mas migrou para o PSDB -, Natalini diz que viu colegas que dividem a mesma ideologia também optarem por continuar no ativismo, mas fora da vida pública.
"Muitas pessoas como eu deixaram a frente de batalha, como Fabio Feldman, Ricardo Young. Já Eduardo Jorge é pré-candidato do PV à Prefeitura. Ele é um dos que eu ainda converso."
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A posição política adotada pelo vereador atualmente não ajuda - ele se diz oposição ao prefeito Bruno Covas (PSDB), ao governador João Doria (PSDB) e ao presidente Jair Bolsonaro -, mas não impediria uma vitória nas urnas, acredita.
"Faz tempo que estou pensando, meses ponderando, colocando na balança o que é bom pra mim e para meus apoiadores. Achei melhor parar por vários motivos. Não adianta querer forçar uma situação. A política e os partidos estão cada vez com menos ideias, menos sonhos. A atuação individual hoje é maior que a atuação coletiva. Isso vai desanimando a gente, fazendo a gente perder o pé", afirma.
Trajetória
Médico e cirurgião, especializado em gastroenterologia, Gilberto Natalini chegou à Câmara aos 48 anos com a bandeira da saúde, da proteção ambiental e da democracia, talvez esta, sim, sua maior luta. Quando jovem, foi integrante do antigo Partido Comunista. Durante a ditadura militar, chegou a viver na clandestinidade, mas foi preso e torturado em 1972 por oficiais da Forças Armadas.
Natalini participava de movimentos estudantis em São Paulo e ficou sob o poder de torturadores por dois meses. Um dos oficiais que o torturou foi o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, diversas vezes elogiado publicamente pelo presidente Bolsonaro, que o trata como "herói". Durante esse período, o hoje vereador perdeu parte da audição dos dois ouvidos em função dos choques elétricos que sofreu.
Mas o desânimo atual não tem, segundo ele, relação com a chegada da direita ao poder, mas sim com a degradação atual da política e o famoso toma lá, dá cá. "Nem sei como as pessoas hoje se dividem entre direita e esquerda. Baseadas em quê? O loteamento de cargos, esse troca a troca, aliança com o Centrão. É tudo igual. Sou contra o PT, sempre fui, e claro contra o governo Bolsonaro."
Nos últimos 20 anos, Natalini se licenciou da Câmara apenas para assumir cargos em gestões aliadas, como em 2005 e 2017. Na primeira passagem atuou como secretário municipal de participação e parcerias e na segunda, como chefe da pasta do Meio Ambiente do então prefeito João Doria, mas só por sete meses.
"Fui secretário quando ele (Doria) não me conhecia e ele me demitiu quando me conheceu. Sou o único caso de demissão por excesso de probidade", diz.
No Parlamento, diz Natalini, a prática do toma lá, dá cá é ainda mais aguda. "São esses os motivos do meu desânimo. Cansei de dar murro em ponta de faca. Trabalhei bastante, tenho uma produção muito grande (136 leis aprovadas e mais de 2 mil discursos, por exemplo) e não vou não me aposentar. Só deixar a política parlamentar."
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