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Opositores acusam Alcolumbre de interferir na eleição do irmão, Josiel, em Macapá

Brenda Zacharias

São Paulo

05/12/2020 09h23

As três semanas em que o Amapá enfrentou uma grave crise no abastecimento de energia elétrica colocaram holofotes ainda maiores na disputa pela capital, Macapá. No maior eleitorado do Estado, com ao menos 290 mil pessoas aptas a votar, a discussão passou a ser pautada pela atenção à fiscalização da geração de energia e quase custou o favoritismo de Josiel Alcolumbre (DEM), apoiado pelo atual prefeito, pelo governador e pelo irmão, o senador Davi.

Na última pesquisa Ibope, divulgada pela Rede Amazônica, afiliada à Rede Globo, na quinta-feira, dia 3, Josiel aparece com 28% das intenções de votos válidos. Em segundo lugar, o candidato Antônio Furlan (Cidadania), médico e deputado estadual, com 14%. Empatados em terceiro aparecem a deputada federal Patrícia Ferraz (Podemos) e o senador João Capiberibe (PSB), com 13%. A margem de erro é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos.

A vantagem, no entanto, já foi maior. Josiel chegou a alcançar 31% dos votos válidos em pesquisa do mesmo instituto divulgada em 28 de outubro, mas despencou para 26% na pesquisa seguinte, de 11 de novembro, no auge do apagão. Em algumas de suas propagandas mais recentes, ele destaca os apoios como um meio de vencer a crise. "Não é tempo de aventuras e nem de voltar atrás. Com a Silvana (candidata a vice) ao meu lado, com a bancada federal unida e com mais força em Brasília, Macapá vai vencer a crise", disse em vídeo. O candidato é apoiado pelo atual prefeito de Macapá, Clécio Luis (sem partido), e pelo governador do Estado, Waldez Góes (PDT).

Davi Alcolumbre chegou a afirmar em entrevista à rádio Diário FM que o "maior prejudicado" do apagão era justamente o seu irmão. Na fala, o atual presidente do Senado indica que o irmão subia nas pesquisas e poderia ganhar já no primeiro turno, mas a ligação aos outros políticos em meio à crise fez com que a rejeição aumentasse.

E não apenas isso: as críticas dos opositores tornaram-se mais acirradas também. Furlan, por exemplo, fez postagens frequentes em suas redes sociais criticando a atual gestão. "O cenário caótico prejudicou em demasia a população, e não como quis parecer o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que julgou o seu irmão, Josiel, o mais prejudicado", disse o candidato ao Estadão em nota.

O mesmo movimento aconteceu com a candidata Patrícia Ferraz, que chegou a dizer que o apagão tem "nome e sobrenome" e usou as hashtags #ForaJosiel e #ForaDavi. Um membro da coordenação da campanha da candidata reiterou ao Estadão a tese de que as forças locais agiram para adiar o pleito como uma tentativa de estancar a queda no desempenho do candidato do Democratas.

Um exemplo elencado pela campanha é a continuidade das eleições em todo o Estado, apesar dos municípios vizinhos também terem sido afetados pelo apagão. Além disso, destacou os decretos do governador Waldez proibindo aglomerações de campanhas políticas, também por conta da pandemia.

A assessoria da campanha de Josiel Alcolumbre diz que as acusações são inverídicas e que o pleito não foi adiado por pedido do candidato nem de seu irmão. Já a assessoria do senador corrobora com a fala, dizendo que as acusações contra ele são "levianas e irresponsáveis".

O que teria levado ao adiamento da votação na capital, de acordo com ambas as assessorias, foi a crise energética e social que se instalou na cidade durante o apagão. A incapacidade de garantir a segurança dos eleitores do município e dos demais do Estado caso a data inicial fosse mantida foi levantada por órgãos locais e levada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo TRE local.

A decisão partiu do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AP) sem interferência de Davi Alcolumbre, diz a assessoria. É ressaltado, ainda, que ele chegou a conversar com o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, para relatar a situação do Estado, assim como fez, por exemplo, o senador Randolfe Rodrigues (Rede).

O leque de candidatos ainda tem outros cinco nomes: Guaracy (PSL), que aparece na última pesquisa Ibope com 9%; Paulo Lemos (PSOL), com 7%; Professor Marcos (PT), com 3%; Haroldo Iram (PTC), com 2%; e Gianfranco (PSTU), que soma 2%.

Caso o novo prefeito não seja eleito neste domingo, o segundo turno das eleições no município está marcado para o próximo dia 20.